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NATUREBAS DO CHILE: VILLALOBOS E OS VINHEDOS SILVESTRES

Muita gente me pergunta o que é um vinhedo natural. Então. Vamos lá.

Não existe vinhedo “natural”. A videira em seu estado natural é uma trepadeira, e cresce espontaneamente onde é autóctone.

Os vinhedos, sejam eles orgânicos, biodinamicos ou convencionais, querendo ou não “domesticam” a videira em estado selvagem: plantando em fileiras, plantando por estacas e não sementes, selecionando clones, deixando elas conduzidas ( latadas, espaldeiras, etc..). Como disse Marco Fon pra gente uma vez, um vinhedo é uma prisão para a videira. Cabe aos viticultores fazer dela uma prisão mais ou menos agradável.

Um vinho natural é um vinho feito a partir de uvas de vinhedos orgânicos ou biodinâmicos, depois feito de maneira natural. Vinhedos orgânicos são cultivados de maneira organica, vinhedos biodinamicos, de maneira biodinâmica. Mas são cultivos. E cultivo, obviamente, já é uma subversão do estado natural da planta.

Então não existe um vinhedo natural? Não, se for pensar a ferro e fogo, não. Teríamos que ter a sorte de achar em um bosque umas quantas parreiras juntas que desse para fazer um vinho. Caso contrário, vira cultivo.

Claro que isso é muito mais filosofia que qualquer coisa. Sem cultivo de uvas não existiria vinho. Mas achei interessante falar isso pois muita gente mesmo confunde achando que existe um vinhedo “natural”.

Agora, claro, podem existir vinhedos mais e menos naturais, dentro disso. Quanto menor a intervenção do homem , mais você deixa o vinhedo, a planta, a biodiversidade, a natureza agir por conta própria. Podas, máquinas, produtos químicos, condições, regas, adubos, etc, etc, vão deixando o vinhedo “menos” por conta própria.

Relaxem: não estou fazendo apologia a “vamos caçar uvas selvagens e fazer vinho”. O que sempre defendo é sempre fazer, dentro do possível de um cultivo e de uma elaboração de vinhos, as coisas mais saudáveis e naturais possíveis.

Agora vejam essa parreira. Ela está em seu estado natural. É uma videira de mais de 60 anos que foi “abandonada”, e voltou ao seu estado silvestre, como trepadeira.

É o vinhedo do Villalobos, aqui no Chile. De longe o vinhedo que mais aproxima planta do seu estado natural. Impressionante.

 

Enrique Villalobos e seu vinhedo Silvestre. Uma das coisas mais impressionantes que já vi.

A terra era deles, e no meio de um bosque, havia um vinhedo abandonado por mais de 60 anos. Nesses 60 anos, as videiras sobreviveram sem nenhuma intervenção humana, o mato cresceu, árvores cresceram, virou uma mata. As parreiras sobem nas árvores, se entrelaçam, sobem nos arbustos.

É desse vinhedo que sai a Carignan do Villalobos.

Um amigo francês dos filhos, Marhieu Rousseau, enólogo, foi que começou com a idéia do casal Enrique e Rita, artistas, a fazerem vinho desse vinhedo.

Mathieu infelizmente faleceu antes de ver os vinhos fazerem sucesso e ganhar prêmios já na primeira safra. Até hoje o nome de Mathieu está na garrafa, como homenagem. 

Enrique e Rita, artistas, vivem num vale ( chamado vale dos artistas ) onde se reúnem pintores, escritores, escultores, ceramistas. Foi um projeto onde cada artista doava uma obra, em troca recebia uma parcela de terra. É ali onde eles vivem hoje. Enrique tem esculturas importantes espalhadas pelo Chile inteiro.

De vinho, produzem apenas 6000 garrafas ao ano. Vinhedos silvestres e vinificação natural.

 

Villalobos Carignan e Carmenére, vinhedos silvestres e vinificação natural. Pena que ainda não estão no Brasil. 

Carignan clarinho, floral, suculento, leve. Carmenére sem verde excessivo, profundo, arisco. De beber ajoelhado.


  

25/3/2016
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