Era dos Ventos: Vinho como deveria ser o vinho.
“Beber o dia como se fosse noite
Beber a lágrima como se fosse mar
Beber a luz como se fosse alma Beber tua boca como se não fosse flor
Beber teus olhos como quem não toca as mãos
Beber teus sonhos como quem rouba a lua
Beber dos ventos, confundir o tempo,
Beber da Era a solitária valsa
Morrer de vinhos, moinhos de mim…
(outrora vez)
Beber o fim.”
Eu já quis matar o Zanini. Juro. Considerem isso um elogio. Aliás, dos grandes.
Conheci essa figura maravilhosa e seus vinhos a um tempinho atrás. Foi paixão a primeira vista. Ele são os vinhos, os vinhos são ele, ele é a alma líquida dentro da garrafa.
O primeiro amor foi o Peverella 2008. Peverella? No Brasil? No Vale? Ahnn?! Esse e mais um monte que perguntas ( vinho natural? Como assim, aqui no Braza?! ) foram respondidas com o primeiro gole. Existem vinhos planos e vinhos profundos. Existem vinhos sinceros e vinhos maquiados. Esse era todos os meus melhores adjetivos: tinha personalidade, clareza, franqueza, sinceridade, alegria, profundidade, complexidade, originalidade, persistência, tudo. E mais um pouco, pois os aromas e sabores eram extremamente naturais e inebriantes.
Confesso que bebi metade das garrafas que comprei, e vendi só o que sobrou. Com alguma culpa na consciência, pois sempre pensava: Ah!! Mais um Peverella que deixei de tomar! Não há dinheiro no mundo que me repare isso!! rss
Pois é…. mas como tudo que é bom… melhora ( nesses raros casos onde o mundo e o universo são bondosos com você – acredite, isso acontece… ), esse ano veio a nova safra do Peverella.
O Zanini me trouxe essa garrafa já faz um tempinho. Fiquei namorando por um tempo antes de degustar. Sabe como é, a coisa é séria com esse tipo de vinho.
Até que em um feriado levei a garrafa para a praia ( um dos únicos lugares que consigo me desligar de tudo, por enquanto ) e tomei coragem de beber. Parecia um pouco primeiro encontro, sabe? Você demora pra ligar, não por falta de interesse, mas por um certo “medinho”. Ué, vai dizer que nunca aconteceu isso com vocês?! rss … Comigo já, várias vezes. E essa é uma das melhores sensções do mundo.
Era dos Ventos, anárquica, artística, lúdica, atemporal! Vinho etéreo, eterno.
A filosofia, tal como a ave de Minerva só levanta vôo ao entardecer, e
então, aos nossos “pássaros filósofos” o nosso vinho abraço.
“Convém destacar que arte é, na sua condição essencial, o resultado do
uso das mãos. As mesmas mãos usadas para a primitiva comunicação através
de sinais, que forjou ferramentas, que escreveu papiros, que
proporcionou o primeiro abraço e que levam ao céu e que tocam a uva e
elaboram o vinho”. (Àlvaro Escher)
Bom… como eu disse, existem situações em que o universo é muito bondoso com você. E por incrível que pareça, a nova safra do Peverella, que já figurava entre meus vinhos preferidos, veio ainda melhor. Mais complexa, mais gorda, mais aveludada, com potencial de guarda latente, acidez perfeita, aromas nocauteantes. Um Tondonia brasileiro, por assim dizer. Me entendam essa comparação pela qualidade e pelos aromas e sabores singulares em vinhos brancos.
O que posso falar? O amor virou crônico. Para mim, é o melhor vinho branco brasileiro que já tomei.
Mas a história não termina aqui. Cerca de um mês atrás, descobri que eles estavam fazendo não somente o Peverella, mas….um Merlot. Também nos mesmos moldes, natural, procurando indentidade brasileira verdadeira.
Ahhhnnn, por favor, Zanini, faz um vinho ruim pelamordedeus! rsss
Claro que o Merlot também estava fantástico!! Definitivamente entre os TOP 5 dos melhores vinhos do Brasil, junto com alguns outros queridinhos. Amplo, amplo, risonho, maduro, delicioso. Terroso, frutado, sensual, galante, claro. Vinho como deveriam ser os vinhos.
Pois é. Confessei. Perdão aos chatos que ainda pensam que vinho brasileiro é ruim, ou que vinhos naturais são “simplinhos”. Perdão pois vocês estão perdendo verdadeiras jóias do nosso país, aqui bem debaixo de nossos narizes.
E claro… perdão pois vou fazer questão de tomar todas as garrafas possíveis e – deixa eu ser egoísta dessa vez – não vou ter o mínimo pudor de deixar um exemplar para essa galerinha chata que não dá valor aos próprios tesouros. Eles não merecem o Era dos Ventos.
Salut!