Sustentabilidade, Divagações

Herbicidas: o início do fim?



A OMS define como “pesticida” como “toda
substância capaz de controlar uma praga, em sentido amplo, que possa oferecer
risco ou incômodo às populações e ambiente”.
Podem ser uma substância ou
uma mistura de susbtâncias químicas capazes de diversos efeitos. Inseticidas
para eliminar insetos, acaricidas para ácaros, fungicidas para fungos,
herbicidas para ervas daninhas, bactericidas e antibióticos para bactérias.
Hoje, na maioria dos
vinhedos comerciais que conhecemos, onde a agricultura em escala industrial
substituiu o ambiente “natural” da videira, é comum você encontrar vastas
extensões de terra com vinhedos… e mais nada. Nenhuma erva, plantinha ou
florzinha pra contar história. Você podem se perguntar:  mas oras; uma plantação de cebolas vai ter
apenas cebolas, assim como uma plantação de tomates vai ter só tomates.
Obviamente uma plantação de videira vai ter só videiras.
Pois é. O grande
problema é que esse conceito de terreno “limpo”, sem as chamadas ervas ”daninhas”
( ou seja, ervas que “danificam”a plantação ) é relativamente moderno. Mais
especificamente é um conceito que surgiu e criou força depois da segunda metade
do século vinte, com a necessidade mundial de produções em larga escala,
produtivas e rentáveis.
Produção em larga
escala é a chave de todo o meu discurso. Escala industrial versus escala
humana. Vejam bem. Não estou aqui discutindo viabilidade de produção, economia
ou qualquer outra coisa. Senão o assunto vai para outra direção. Estamos
falando, em pequena escala, do equilíbrio natural “ideal” de um vinhedo.
Em um vinhedo onde
existem  ervas e plantas de outros tipos,
vai haver competição por água e nutrientes do solo entre elas.  Assim como, se existem ervas altas, a
circulação de ar e a fotossíntese serão afetadas. Com uma baixa circulação de
ar, a probabilidade de aparecer algum tipo de mofo nas uvas é maior. Por isso
que em uma produção industrial as plantas e ervas são retiradas do vinhedo. Assim
as videiras tem mais água e luminosidade disponíveis, e o manejo nos vinhedos
fica mais fácil. Mais água, mais luz, menos trabalho? Parece o paraíso. E é
exatamente o que os herbicidas oferecem: eles matam as ervas e plantas
maldosas, e deixam as videiras livres para crescer e produzir sem nenhuma
interferência.
Mas claro que não é
assim. Não existe “monocultura” de nada na natureza. Isso foi invenção do ser
humano. E se foi invenção do ser humano, já dá pra imaginar que uma hora ou
outra vai haver uma patinada. Pois é: essas tais chamadas ervas “daninhas” são
justamente responsáveis por aportar uma quantidade considerável de elementos
indispensáveis para um solo saudável, tais como magnésio, ferro, boro, flúor,
manganês, cobre, zinco, rubídio, etc. Sem elas, o solo fica carente desses
elementos.
Quando conversamos
com viticultores “naturebas”, muitos dizem que o início do fim é a utilização
dos herbicidas, o pesticida mais “light”, digamos assim. Mas eliminar a vida (
nesse caso, ervas e plantas de diferentes tamanhos) nos vinhedos implica muito
mais do que somente um padrão de rendimento ou estético: você elimina junto com
essas ervas toda uma primeira camada de bactérias do solo. E só para citar um
nutriente: são justamente algumas dessas bactérias as responsáveis por fixar o
nitrogênio, importantíssimo para a nutrição, crescimento e saúde de qualquer
vegetal. Sim, meus queridos. Existem na natureza bactérias específicas, que só
existem em certas raízes de certas plantinhas, responsáveis pela fixação do
nitrogênio no solo. E assim como elas, cada joaninha, erva, raiz, bactéria, pedra
e florzinha dentro de um ambiente em equilíbrio, tem a sua devida função, mais
ou menos importante, no balanço geral das coisas.
Tirar as ervas e plantas
de um vinhedo e esperar que ele “funcione” normalmente é mais ou menos como tirar
o seu intestino, um dos seus rins, e esperar que você continue vivendo da mesma
maneira sem tomar alguns remédios e sem estar ligado a alguns tubos. Não fui nada
sutil nessa minha comparação, mas acho que agora deu para entender…rs….
Bom, mas vamos aos
vinhedos. Em uma situação ideal, na natureza, os elementos são retirados do
solo pelas plantas e depois retornam a ele quando elas ou os animais que se
alimentaram delas morrem. Processo lento, complexo e demorado. Por isso que
meter o dedo no meio é sempre fazer besteira.
Imaginemos que nosso
viticultor resolveu investir em herbicidas para facilitar a sua produção e
eliminar as malvadas plantinhas. Depois de um tempo, e resumindo a grosso modo,
o solo vai começar a ficar pobre em alguns compostos minerais que só aquelas
ervas e plantas conseguiam “devolver” para o solo. As videiras vão ficar com carência
de nutrientes  e da mesma maneira que
nós, quando não nos alimentamos da maneira adequada, elas vão começar a ficar
doentes. Doentes mesmo. Uma série de enfermidades e bactérias ( que não
existiriam se elas estivessem saudáveis ) vão surgir.  E sim, videiras doentes, além de produzirem
menos e com menos qualidade, uma hora morrem.
Solução? Tã rãnnn!  Fertilizantes químicos para suprir a falta de
nutrientes minerais e bactericidas e antibióticos para matar as bactérias
(diferentes daquelas que foram retiradas dos solos ) que atacaram o vinhedo em
desequilíbrio.
Mas esses “antibióticos”
vão afetar também a superfície das folhas das videiras e as bactérias que
existiam ali como uma proteção natural. Pronto, já estragou mais um pouquinho o
vinhedo.
Se pensarmos então em
uma situação onde o vinhedo é isolado de qualquer outro ecossistema, como bosques,
florestas, matas e etc. ( que é o que acontece com as grandes parcelas de
vinhedos em escala industrial ), não teremos também a convivência de insetos ou
de animais nesse vinhedo ( isso por que estamos apenas falando da barreira
física da distância, e não entramos ainda nos inseticidas, que afastam os
maléficos insetos das plantações).
E daí? Bom, só um
exemplo: alguns insetos comem ácaros. Ácaros podem contaminar um vinhedo
inteiro e exterminá-lo ( como por exemplo as aranhazinhas vermelhas …).
Solução? Utilização de acaricidas.
Sabe aquela pessoa
que começa a tomar um remédio e depois de um tempo está tomando mais dez, pois
depois acaba tomando um segundo sempre para controlar os efeitos colaterais do
primeiro? Exatamente. Não existe remédio sem efeito colateral.
Cri, cri, cri ….
4/6/2013
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