O FIM DA MALDIÇÃO: LE SEVERO…
William Bernet é o dono, o açougueiro e também faz o salão juntamente com mais um rapaz. Ele é o Francês típico dos esteriótipos. Ele resmunga, blasfema, fecha a cara, mas no final você sai apaixonado por ele e pelo lugar.
Com cerca de 10 mesas, os clientes se espremem em um único salão. O espaço entre as mesas é de exatos dois dedos. Pra entrar no sofá, tem que puxar a mesa. E depois pra sair….bom, azar o seu. Ou você arrasta a mesa com tudo em cima, ou aguenta a vontade de ir no banheiro….rsss…
A carta de vinhos, grande maioria naturais, é fenomenal. Usa e abusa dos Borgonhas. Chutamos o balde e pedimos um vinho de 120 euros ( bastante caro para os padrões de bistrôs parisienses.). Era o Nuits-Saint-Georges Les Damodes, do Frédéric Chaussard. Sem comentários. Natureba de estirpe. Divino.
De entradinhas, fomos no pé de porco desossado com maçãs salteadas ( mulherada em regime, tremei ) e no Boudin Noir. De longe, o melhor Boudin Noir que já comi na vida. Talvez o melhor de Paris.Mas ainda preciso de uns cinquenta anos comendo todos os dias em todos os cantinhos de lá para formar essa opinião. Quem diz que conhece Paris bem não sabe o que está falando – é praticamente impossível.
Engraçado que ninguém ficou reclamando do “aperto” ou do espaço entre as mesas. Aliás, acho que essa é uma bobeira típica dos brazucas. Em Paris, acha o máximo. Mas se é em Sampa, critica.
Ah sim.
Nada de taças de cristal gigantescas para se tomar um vinho de 120 euros a garrafa.
É taça ISO, meu bem. E água de garrafa da pia.
Isso é que é ser chique. O resto é idiotice.
Alguns pontos altos do bistrô:
– O Bernet é um francês caricato. Vale a visita para ver ele de cara feia e cheirando a sua garrafa antes de servir. Mas não se engane. O mau humor aparente esconde uma pessoa maravilhosa.
– O serviço de vinhos é extremamente despretencioso, como deveria ser sempre, a não ser que você estivesse em um almoço com a rainha Elisabeth.
– Os frequentadores são franceses. Os mais turistas eram a gente, mesmo, encantados e tirando foto de tudo.
– As carnes são divinas. Os cortes, precisos. O ponto….. bom…. rsssss no Le Severo não existe ponto pra carne. Ou é Bleu ou é bleu. Ou seja, por fora tostadinha e por dentro crua, mas morninha…rs… paraíso dos vampirões carnívoros. Mas se você não suporta ver sangue, não vá.
– Os vinhos são naturebas.
– O serviço de mesa é tão ou mais despretencioso do que o de vinhos. Pudera, é feito pelas mesmas pessoas. A nossa batata frita não cabia na mesa, então foi parar na mesa do lado – e não, o cliente do lado não achou nada de estranho nisso.
– As batatas – provavelmente fritas em banha – são um caso a parte. Morreria por uma batata daquela.
– As porções são mitológicas. O Obelix poderia comer aquela costela e ainda ficar satisfeito.
– Os pratos são reduzidos mas extremamente bem feitos. Gastronomia tradicional mas muuuuuito bem executada. Delicada, fina, elegante. Eles conseguem dar elegância a uma costela de 1,5kg, crua, no seu prato. É para poucos.