Naturebas de Portugal: Quinta do Romeu
Logo depois de sair da Muxagat – e dormir uma noite na casa deles, que foi delicioso – fomos para a Quinta do Romeu, ainda na região do Douro. Uns 45 minutos de carro; e ainda morrendo de sono por causa da viagem – chegamos lá.
Conhecemos João Menéres, que hoje cuida da Quinta, em um jantar aqui na Enoteca. É, pois é. O Antônio, da Casa de Mouraz – outro natureba, do Dão – o trouxe aqui faz alguns anos para jantar, depois de uma feira de vinhos portugueses orquestrada pelo Luiz Horta.
Foi paixão à primeira vista. E não teria como não ser. O João transborda simpatia e paixão pelo que faz. Ele abandonou o emprego que naaaadaaa tinha a ver com vinhos quando o pai o chamou para tocar a Quinta junto com ele. É uma história linda: o trisavô de João que começou tudo, investindo em terras que as pessoas achavam “inférteis”. Pois bem, inférteis mas tinham sobreiros. Aos montes. E o negócio da família começou assim; e hoje eles tem uma Quinta linda, toda ecológica, que produz cortiça, vinhos e azeites. Azeite esse, que diga-se de passagem já foi considerado entre alguns melhores do mundo.
A Quinta foi fundada em 1902 como sociedade agrícola, mas o trisavô de João chegou por ali em torno de 1874. Foi com o trisavô que começou a produção de vinho, e também a comercialização de vinhos do Porto – que foi um negócio importante para a família, diga-se de passagem. Eles ainda tem alguns portos antiiiiiiigos por ali, daqueles que dá vontade de assaltar a adega e sair correndo.
Os vinhos foram biológicos desde sempre, mas só começaram a colocar no rótulo a partir de 2000 – pois antes disso o mercado não estava tão aberto para essa informação, e os vinhos orgânicos eram mal vistos.
( João, me corrija se eu estiver falando alguma besteira….rss )
Toda a aldeia gira em torno da Quinta: as pessoas trabalham em diferentes setores, durante muitos anos. João e seu pai conhecem todo mundo, e fazem diferentes trabalhos que poderiam ser resumidos em “sustentabilidade” local. Além de empregar os moradores, existe uma escola bancada por eles nos arredores do Romeu.
Como sócios dessa sociedade agrícola, hoje são cerca de 80 familiares.
Foi num clima de expectativa que cheguei no ali Romeu, depois do GPS se perder um zilhão de vezes. Sim, o Romeu é uma vila e a Quinta está nela e é ela. Complexo, eu sei. Mas ao longo do texto vocês entenderão.
Essa é a rua principal do Romeu, onde fica o restaurante Maria Rita, da Quinta. A estalagem foi o primeiro lugar onde Clemente Menéres, o trisavô de João, chegou quando estava comprando as terras por aqui. Em 66, o filho de Clemente comprou a casa e a transformou em um restaurante.
Trouxe sua cozinheira e as receitas da família, e até hoje, as pessoas vem ao Romeu para comer no Maria Rita. Dá pau em muito restaurante por aí e por aqui. Não é à toa. Comida de primeira, receitas fenomenais, atendimento caloroso e ……. jesusamado, as melhores alheiras que já comi na minha vida. Não vou falar que fiquei com uma invejinha daquelas pãtzas cozinheiras e daqueles pratos absurdamente bons – pois não foi esse o sentimento. Mas foi um mixto de frustração como cozinheira e alegria suprema por estar provando aquelas coisas…. rss. Juro. Melhores alheiras da vida. E o Bacalhau – coloco aqui em maíuscula – pra comer de colher. Devo ter engordado uns dois quilos só no primeiro almoço.
As alheiras do restaurante Maria Rita, no Romeu, aqui em cima. Quando morrer quero virar carne moída pra virar uma alheira dessas… hahah… são as melhores do mundo!! Podem falar para quem quiser.
Detalhes do restaurante Maria Rita, na Quinta do Romeu……..
Só pra esclarecer minha depressão pós primeiro almoço, depois das alheiras, um Bacalhau ao Romeu – frito no azeite Romeuuuuuuuu….. ah! E um creme queimado – como antigamente, com ferro – de comer de joelhos. Tudo perfeito. Sem tirar nem colocar.
Aqui é João falando um pouco sobre os vinhos dele – em especial, o Moinho do Gato, delícia de vinho pra tomar sempre que der na telha. Ah sim. A gente não, pois ainda não tem importação no Brasil…… ;-(
Bom….. assim que chegamos no Romeu, pudemos dar uma volta pela Quinta e por onde fica a casa principal, o lagar de azeite e o escritório. Além da rua principal da aldeia, onde tem o restaurante Maria Rita – aqui embaixo.
Esse é um detalhe do pátio onde está a casa antiga, o lagar de azeite e o escritório. Com parreiras em latada com centoelávaiano de idade – olha o tronco.
Como ficaríamos lá uma noite ( gente, eu teria ficado lá 50 noites ), fui dar uma olhadinha no meu quarto, e quase chorei de emoção. Podia morar nele! rssss coisa mais linda.
Mas voltemos ao foco. Fomos dar uma volta pela floresta de sobreiros e depois pelas vinhas. Esse é um sobreiro, árvore da cortiça, da qual fazemos as rolhas. Aqui no Romeu eles produzem vinho, azeite e cortiça. Somente depois de 40 anos plantado você pode colher a cortiça ( que é a casca ), e depois precisa esperar mais des anos para colher de novo, para a casca se regenerar. Puta trampo.
As variedades de olivas plantadas ali de Trás-os-Montes são Verdial, Madural e Cobrançosa ( acho que escrevi certo ).
(Video do passeio que fizemos com o João pela floresta de sobreiros da Quinta. )
Os vinhedos ficam numa “ilha” de xisto, no meio de um mar de granito – que é onde ficam os sobreiros. A produção de vinho começou pois a colheita da cortiça só pegava dois meses do ano da população local. Para empregar essa gente no resto do ano, começou a se produzir vinho e azeite. Assim, o ano inteiro eles poderiam ter trabalho. Do fim de Outubro até o Natal, é a colheita das azeitonas. De Janeiro à Março, poda das vinhas e das azeitonas. No verão, até meio de Agosto, se faz a colheita da cortiça. E lá por Setembro começa a colheita das uvas.
E esse aqui é um quartzo do vinhedo de Tinta Barroca, do quinta do Romeu. Tinta barroca é uma variedade muito plantada no Douro, e corre a lenda que todos os vinhos mais velhos do Porto tem uma bela porcentagem dela. É uma casta que geralmente não tem muita acidez e considerada sem muita complexidade e fácil na boca. Mas em lugares mais frescos, consegue boa acidez. No vinhedo de barroca do Romeu há um pouco de quartzo, rocha mais fresca que o xisto, mais mineral, que pode conferir uma característica bem diferente ao vinho e contribuir para a frescura e acidez. No Douro predomina o Xisto e o granito.
Lugarzinho feio, né? Pois é. Deus foi generoso com as paisagens aqui. Essa de cima, pra ter uma idéia, é a saída de uma das portas da adega.
Fora os vinhos de linha, que provamos no almoço, o João nos levou para provar várias coisas na barrica. Uma mais interessante que a outra. E a programação do jantar foi mais interessante ainda. Antes do jantar, ele quis nos levar ao bar ali perto,o café Burrica, no Romeu, para provar um vinho artesanal, do senhor Rui.
Vinho de ramada ( nossa latada ), de vinha muito velha, de produção caseira. É vinha de vitis vinifera, não “morangueiro” (como chamam as americanas). O Rui é filho do seu Burrica, e o “título” de Seu Burrica passa de geração em geração para quem cuida do café. Viemos aqui assistir ao jogo do Porto de tomar um vinhozinho. E não é que adorei?!
Essa foto aqui embaixo é do antigo escritório da empresa familiar. Reparem que em cima… o teto é de cortiça!!! Genial! Cortiças empilhadas que ainda se transformariam em rolhas.