Criado Solto: Sicília
Sicília. Uma ilha perdida lá no final da bota, entre a Europa e a Africa, que vive no imaginário da maioria das pessoas que eu conheço. Inclusive do meu, fã de filmes italianos antigos e de trilhas sonoras, sempre tive a Sicília na minha cabeça mais em preto em branco do que em colorido.
Sempre quis visitar a Sicília – um dos meus primeiros amores da adolescência tinha família Siciliana, seu avô fazia vinhos na garagem, e eu sempre fiquei fascinada com aquelas histórias de pessoas que cruzavam o canal até a Calábria à nado. Embora muita gente que eu conheço imagine uma Sicília dos comerciais de moda ou perfumes italianos, com cores vibrantes, mulheres lindas decotadas e homens másculos de sunga branca em seus barcos, confesso que a Sicília do meu imaginário estava mais próxima do real do que eu imaginava. Sou de São Paulo, 90% de todo mundo que eu conheço têm parente italiano, muitos deles sicilianos. Talvez daí a familiaridade. Ou então assisti tantos filmes que acabei conhecendo a ilha antes mesmo de conhecê-la. Quem não sonhou acordado com Cinema Paradiso, “Malena”, “O Carteiro e o Poeta”, “Decameron”, “Divórcio à Siciliana”, “O homem das estrelas”, “O Leopardo”, “Kaos, Baaria – a porta do vento” ou “Por amor ou vingança” não sabe o que está perdendo. Junto com os relatos da viagem vou incluir também uma listinha de filmes. A trilha sonora já tem, está lá no Spotify como “Criado Solto Itália 2018”.
Minha Sicília sempre foi cinematográfica, sempre teve música. Sempre teve essas cores de terracota, de azul marinho, de verde, de roupas coloridas e roupas negras, de pessoas queimadas pelo sol, aqueles olhos morenos. Sempre teve bancas de peixe, vilas de pescadores, feiras livres onde se encontra de um tudo, mulheres lindas, muitas ruínas que contam histórias de famílias antigas. Minha Sicília sempre foi a Sicília de limões sicilianos ( e aqui eles são mesmo sicilianos ) rolando pelos chãos de pedra, atravessando os pátios de casarões de pedra abandonados, se esgueirando por templos gregos monumentais, batendo nos pés das senhoras vestidas de negro indo para a missa, desviando dos pescadores e dos gatos que espreitam os pescadores, até pluff…. tchibum. Cair em algum abismo naquele marzão impossível de azul. Tudo isso começando em preto e branco, umas crianças correndo no meio, o vulcão ao fundo, tudo vai ganhando cores …. e termina a cena com uma trilha sonora de Ennio Morricone pro filme Malena. Que aliás, “Il Ritorno de Malena” é aquela musiquinha simpática que muita gente me pergunta qual é, da maioria dos meus vídeos que posto por aí.
Minha Sicília não era assim tão distante da realidade – embora existam várias realidades para várias pessoas. O que encontrei aqui foi tudo isso e mais o sol, impetuoso. Os canollis, as granitas, as marionetes, as cerâmicas, as igrejas, os melhores expressos que já tomei na vida, uma herança absurdamente de trigos antigos, vinhateiros que cultivam suas uvas da mesma maneira à milênios, vinhos que são o retrato das paisagens, paisagens de bater o carro na estrada e cidades lindíssimas no meio dessas mesmas paisagens. Uma história de invasões, de guerras, um verdadeiro caos de domínios das mais diversas culturas. De gregos à judeus à árabes à alemães, aparentemente todo mundo passou por aqui e deixou um pedacinho de si. Mas sobretudo, o que mais me impressionou na Sicília foram as pessoas. Que gente, esses sicilianos. Amorosos, acolhedores, sempre prontos para aquele bate papo longo, te ensinar alguma coisa ou te convidar para um prato de pasta, um café, um vinho ou um pouso.
Uma semana na ilha obviamente foi pouco – sendo que metade eu estava com febre e dor de garganta, e sem condições de aproveitar a viagem por completo. Quem manda emendar semana de feira Naturebas com viagem pra Europa? Mas já tenho praticamente bilhete de volta para esse ano e mais uma centena de coisas que eu preciso ver, pessoas que preciso conhecer, lugares que preciso ver e comida e bebida que tenho que provar. Espero que na próxima, sem febre.
Dessa vez a viagem foi uma viagem foi “de vinho”. Vim para conhecer a maior parte possível dos produtores de vinho natural da ilha. Vinho natural? Sim, vinho natural. Aqueles vinhos feitos com uvas saudáveis e agricultura que respeita a terra, orgânicas e biodinâmicas, e depois bonificadas sem aditivos ou técnicas enológicas invasivas. Quem me acompanha sabe que levanto bandeira desses vinhos à uma década. Mas quem ainda não sabe direito à diferença desses vinhos para os vinhos convencionais, “normais” que a gente vê por aí, não tem problema. É só procurar por pela #oqueévinho e #vinhosnaturebas ( tanto no blog quanto no insta ) que você vai achar tudo lá.
Ainda faltaram muitos produtores para conhecer, mas na ordem, a maratona de uma semana foi essa: Filippo, da Lamoresca. Davide, do Etnella. Nino, da Barraco. Aldo, da Vini Viola. Giusto, da COS. Ariana, da Ochippinti. Tudo isso com pausa para conhecer um pouco de Palermo, de Siracusa, de Caltanisetta, de Marsala, das praias de Trapani e de Agrigento, além de se embrenhar na primeira camada do mundo dos trigos antigos sicilianos.
Nos próximos artigos, um pouquinho das dicas de viagem. Confiram!! No insta já está tudo lá, nas #criadosoltosicilia2018 e #criadosoltoitalia2018.