Divagações, Vinhos

Os vinhos sustentáveis.

É um vinho proveniente de agricultura sustentável – um tipo de agricultura onde procura-se evitar ao máximo o uso de produtos sintéticos/químicos; utilizando somente quando necessário e procurando manter o ambiente equilibrado, prezando pela sustentabilidade como um todo: energia, água, emissão de carbono, bem estar do meio ambiente e bem estar social. Afinal, sustentabilidade não é só aplicar ou não agrotóxico. É um conceito muito mais amplo, que inclusive, transcende os selos. 

A sustentabilidade, no sentido primário, é o que todos os produtores orgânicos, biodinâmico e naturais procuram. 

Muitos se apegam ao fato de que alguns tratamentos sintéticos usados na agricultura convencional e sustentável, como alguns tratamentos de contato, são considerados, por muitos, menos nocivos do que alguns componentes orgânicos utilizados pelos agricultores orgânicos – como o cobre, por exemplo. De qualquer maneira, os orgânicos e biodinâmico contestam essa teoria dizendo que , mais uma vez, tudo está no equilíbrio. Até água de mais faz mal, então o cobre deve ser ministrado em doses baixas. Claro que até pouco tempo atrás muito vinhateiro usava cobre indiscriminadamente – muitos até por desconhecer como ele é tóxico – principalmente nas caldas borladesas, em combate ao míldio. Hoje já se fazem aplicações conscientes, e de qualquer maneira, o cobre é um produto “de contato”, ou seja, fica na folha da planta e por isso afasta o fungo. Não é um produto sistêmico, que entra na “corrente sanguínea” da planta. De qualquer maneira, é um metal pesado, por isso sua toxididade, e por isso também o cuidado em não exagerar nas aplicações: mesmo por que você está, invariavelmente, poluindo o ambiente e a água do planeta com o excesso de qualquer produto. É indiscutível que para o consumidor, entre um produto de contato como o cobre e um fungicida sistêmico, o cobre é muito melhor: por ser um metal pesado, pode ser eliminado durante a clarificação. Os produtos sistêmicos não, e geralmente ficam resíduoos permanentes, inclusive no vinho. Usado da maneira correta, a maioria concorda que o cobre continua sendo a melhor alternativa. Mas deve-se saber usar, como tudo nessa vida. 

Como é uma abordagem ampla e sem radicalismos, muita gente discute o que é realmente a agricultura sustentável ( durable, raisonnée, integrada ), pois os mais radicais acreditam que não se pode ficar em cima do muro. De outro lado, os adeptos à essa prática acreditam que é o único meio de fazer uma agricultura moderna, sem extremismos e mesmo assim cuidando do meio ambiente. Para os orgânicos, biodinâmico e naturais,  os sustentáveis são muitas vezes só “convencionais disfarçados”.

Briguinhas à parte, conheço muita gente bem séria que se considera sustentável por não querer ficar entre nenhum rótulo. Ou então, pessoas que acreditam mesmo que o equilíbrio entre tudo é mais importante que uma aplicação ou outra, rara, de agrotóxico de baixa toxicidade. Cada um com suas filosofias, o importante é que existem cada vez mais iniciativas sustentáveis como um todo. O vinho é uma delas, mas engloba muito mais do que aplicações de pesticidas e fertilizantes químicos. A garrafa, o rótulo, a rolha, o transporte desse vinho, a emissão de carbono, o lixo, a conservação de energia e dos recursos naturais, etc, etc. Sem contar a parte social: a reintegração dos pequenos produtores no sistema comercial, a sanidade e bem estar desses trabalhadores, a manutenção da pequena cadeia entre o alimento e o consumidor. É muito assunto dentro de um tema só. 

Ainda na galera considerada sustentável, temos também outros tipos de agricultura, como as baseadas nos ensinamentos de Masanobu Fukuoka, a permacultura, as comunidades baseadas na filosofia de Miyozo Yamaguishi e os cultivos agroflorestais. Entre outras, cada uma com sua filosofia de trabalho e regras próprias. 

Um dos termos mais empregados, a agricultura “raisoneé” foi definida em 2004 na França, com uma lista de 103 regras para se enquadrar dentro dos parâmetros, como de por exemplo usar as roupas de segurança adequadas na hora de aplicar os pesticidas, etc, etc. Mas ainda é uma agricultura que permite o uso de agroquímicos, mesmo que em pequena escala. Controverso, e vai continuar sendo por muito tempo. 

De qualquer maneira, a maioria dos vinhateiros que eu conheço acabam mesclando muitas técnicas e filosofias, usando o que interessa mais para seu vinhedo e seus vinhos. Podem fazer cultivo orgânico e algumas práticas biodinâmicas, podem fazer uma agricultura sustentável e vinificação natural, por aí vai. Por isso a importância de se conhecer bem o produtor antes de sair rotulando o vinho por aí. 

31/8/2018
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