Ervas & Plantas

Tanchagem

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Tanchagem. Daquelas plantas que, literalmente, servem pra tudo.  Pra curar e pra comer. Pensa numa coisa, qualquer coisa. Provavelmente a tacharem vai ser útil.

Tanchagem na verdade é o nome dado no Brasil a algumas das espécies do gênero Plantago – embora esse gênero  tenha umas 150 espécies confirmadas. As mais conhecidas são Plantago maior, P. lanceolata, P. ovata, P. tomentosa. Geralmente tem veios nas folhas, com folhas maiores ou menores. Dão por aí aos montes, nos jardins, nos quintais, nos terrenos baldios.

No Brasil, a espécie P. major é conhecida como tanchagem maior, tranchagem, transagem, tansagem, plantagem, língua de vaca, trançagem, ou ainda, como tançagem. No Peru e em outros países castelhanos, a espécie é conhecida tradicionalmente como “llantén”. Já na América do Norte e em outros países de língua inglesa, é denominada de “broad-leaf plantain”, “broad-leaved plantain”, “cart-track-plant”, “great plantain”, “white-man’s-foot” , ou ainda, somente de “plantain”. Na China tem como nome popular: “da che qian”.

É uma das plantas “mais medicinais” entre as medicinais.

Tipo uma farmácia completa numa plantinha só. Tem ação antibacteriana, adstringente, desintoxicante, expectorante, analgésica, anti-inflamatória, cicatrizante, depurativa, descongestionante, digestiva, diurética, tônica, sedativa e laxativa. Ufa. Ela tem origem no Norte da Europa e Ásia Central, mas se adaptou super bem em regiões tropicais. O nome “white-man’s-foot”, pegada do homem branco, vem justamente daí – da introdução dessa plantinha medicinal, em algumas comunidades “não européias”, pelos europeus.

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Emplastros para cicatrização de queimaduras e feridas, para baixar a febre, retirar toxinas de picadas de animais peçonhentos, infecções de pele, diarréia, inflamações de mucosas (garanta, útero, intestino ou faringe), rinite, sinusite, gripe, resfriado, inchaço, acne, varizes, ácido úrico elevado, azia, catarro, cistite, conjuntivite, disenteria, furúnculo, gengivite, gota, hemorragia, irritação na pele após exposição solar prolongada, prisão de ventre. A lista é grande.

Desde emplasto das folhas, tinturas, chá, até a ingestão das sementes, a plantinha meio que “serve pra tudo”. Aprender a fazer infusões, tinturas, secar as folhas, separar as sementes… está naquela arte da medicina tradicional que infelizmente, nós, os bichos de cidade grande, esquecemos. Mas nunca é tarde para começar a estudar.

A quantidade de livros sobre plantas medicinais e seus usos é enorme, desde do catálogo de PANCS  do Kinupp, o Plantas Medicinais no Brasil, do Lorenzi, até o Plantas Mágicas do Paracelso, mais pra alquimia, pra quem não tem medo de viajar. Sem falar da bíblia do Alceu Maynard, o Medicina Rústica.  Sim, como já deu pra perceber, sou daquelas pessoas que piram quando passam na frente de uma livraria. Mas voltemos pra tanchagem.

Ela cresce em terrenos úmidos, geralmente mais compactados – ela é inclusive um indicador de solos úmidos, compactos, com pouca aeração – e longe de grande movimentações. Não gosta de ser muito pisoteada, que nem capim, que adora uma pisadinha. Aqui em casa ela cresce nas hortas que fizemos lá perto do brejo, super úmido e com tendência sempre a compactar demais.

É uma planta rica em cálcio, o que a torna interessante tanto para a ingestão humana como para utilização de aporte de cálcio nos solos. É só espalhar umas sementes de tanchagem pela horta e deixar elas crescerem livres. O solo vai começar a ter mais cálcio com a presença dessas plantinhas por perto.

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Aliás, vamos falar das sementes. As sementes maduras, quando ficam secas e marronzinhas, quando em contato com a água, liberam uma mucilagem similar a da chia ou da linhaça, aquela gosminha, que inclusive é muito utilizada em receitas sem glúten.

Não é a toa que é dessas mesmas sementes que vem o Psyllium, pó muito usado na culinária – nas receitas sem glúten – e também para dietas de emagrecimento – pois absorvem muita água e promovem a saciedade. Também não é à toa que se fazem laxantes naturais com elas, como o Metamucil. Aliás, além de ótimas para regulação intestinal, por conta da mucilagem e das fibras, as fibras melhoram o fluxo  e também a manutenção da boa flora microbiológica intestinal. Há até quem diga que por conta dessas mesmas fibras não solúveis e da mucilagem, as sementes “arrastem” moléculas de gordura e de colesterol, ajudando na manutenção do peso e no controle desse último. Elas também desaceleram absorção de carboidratos, diminuindo os níveis de açúcar no sangue.

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Coisas mais específicas como antídoto para envenenamento por cogumelos amanita (α-amanitina), efeito hepatoprotetor contra danos causados pelo CCl4 e  antiviral contra vírus da hepatite B somam a lista gigantesca de utilizações dessa plantinha.

Genial, não? Na dúvida, tachagem…rs.

Seu uso como cicatrizante é tão antigo que já era descrito nos tratados médicos como “Matéria Médica” do médico grego Dioscórides, do século I, pelos nossos amigos vikings em ‘Volsuga saga’, e também no “Flora Danica”, de 1649 e no  (SIMON  “The Complete Herbal”, de 1649.

É, e aposto que tinha gente achando que era coisa de panc de hipster geração millennial.

Além de tudo isso, pasmem, também dá pra comer as folhas, principalmente as mais novinhas, que são ricas em proteína, cálcio, vitaminas A, E e K. As mais velhas ficam meio fibrosas, daí, só transformando em creme ou cortando bem fininho. Dá até pra tirar os veios delas, mas é um puta trampo. Mais interessante ainda é que as folhas tem um gostinho amargo ….. que no final lembra cogumelos. Pois é. Folha com gosto de cogumelo, quem diria. Usei em omelete, em refogado, em sopa, até crua em salada, e ficou uma delícia. Por ela ter as folhas fibrosas, rola mesmo de fazer aquelas receitas que precisa envolver alguma coisa, como charutinhos ou terrines.

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Aliás, eza a lenda que esse gostinho amargo, que varia de acordo com as estações e é mais forte agora no meio do ano, é o indicativo de concentração de compostos antiinflamatórios. Então até que aquela coisa de “amargar como remédio” tem suas bases científicas. Tem muito composto medicinal que é amargo mesmo.


Usos da tanchagem de acordo com as suas partes: 

As folhas são empregadas na medicina tradicional para tratamento de: feridas , furúnculos , abscessos, cortes , picadas de abelha , picadas de insetos , injúrias oculares , disfonia, resfriados, dor de dente , tabagismo, gengivite, dor de ouvido, para problemas de voz e rouquidão, problemas na garganta , acne e hemorroidas.

O uso interno das folhas é indicado popularmente para limpeza sanguínea, acidente vascular cerebral, infecções, dores renais, diarreia, dores de estômago e digestivas, hemorragias, verminoses, úlceras e fístulas, fluxo menstrual abundante, fogachos, icterícia, tuberculose, câncer, estomatite, esplenite, pneumonia, hemofilia, estrangúria, epilepsia, elefantíase, hidropisia, problemas cardíacos e trombose .

As folhas ainda são usadas como antissépticas , depurativas, hemostáticas, antibacterianas, supurativas, diuréticas, desinfetantes, anti- inflamatórias , antipiréticas, para recuperação pós-parto, bem como no combate ou neutralização dos efeitos causados por animais peçonhentos ou venenosos, tais como escorpiões, aranhas ou lagartos venenosos. O uso das folhas em associação com outras plantas é descrito para o tratamento de tosse, reumatismo, cálculos renais, fraturas ósseas, lesões de pele e, também, para purificação renal e sanguínea.

As sementes de Plantago major são indicadas no tratamento de disenteria, febre, hemorroidas ; sendo descrita também sua utilização em associação a outras plantas como emoliente em casos de tosse e dor de garganta , assim como para combate de miomas uterinos. Os frutos tem aplicação como adstringentes, tônicos, estimulantes, antissépticos, antipiréticos, incluindo combate a desordens estomacais e disenteria.

Na etnofarmacologia, as partes aéreas de P. major são utilizadas em casos de tosse, bronquite, febre, desconforto gastrintestinal, embolia e no combate ou neutralização dos efeitos causados por animais peçonhentos ou venenosos, tais como escorpiões, aranhas ou lagartos venenosos . Os caules tem aplicação como emolientes, antitussígenos e estimulante. As raízes são utilizadas para tratamento de diabetes, infecção urinária, úlceras gástricas, feridas, cânceres e em casos de menorragia.

Por fim, a planta inteira é aplicada para tratamento de distúrbios hepáticos e estomacais, feridas e queimaduras, infecções na garganta, menorragia, dismenorreia, pressão alta, inflamação, inflamação uterina, dor de urina e de bexiga, infecção pelos vírus das hepatites A, B e C, como expectorante, antialérgica e colerética e em úlceras da pele causadas por Leishmania.

5/9/2018
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