FreeRange doc.: A Terra | Agrotóxicos
( esse é um trecho do nosso documentário #freerangedoc , que estreou agora em Novembro. Para assistir na íntegra é só acessar AQUI. FreeRange doc. é um filme de @liscereja e @fabioknoll tradução e narrações @gchastang )
Pesticidas não são uma invenção moderna. O enxofre já era usado pelos Sumérios como inseticida em 2500 a.C. Pesticidas químicos, esses sim, são frutos do século XX. Sua utilização em massa teve início por volta da segunda metade do século, momento em que a agricultura industrial tomou forma no mundo, após duas grandes guerras e com a chamada revolução verde. Baseada em monoculturas, fertilizantes sintéticos e pesticidas químicos, é a a agricultura que hoje consideramos “normal” ou “convencional” no mundo inteiro, embora, na linha do tempo da história agrícola, seja extremamente recente.
Antes do advento da agricultura industrial o homem cultivava de maneira muito mais próxima ao que conhecemos hoje como manejo ecológico, baseado em policultura, subsistência, pequenas propriedades, técnicas e conhecimentos ancestrais, cultivo e consumo majoritariamente locais, espécies de plantas e animais nativos, integração entre os sistemas. E em menos de um século o que foi o modo de cultivar tradicional de milênios na história da alimentação humana, se tornou um cultivo considerado “alternativo”.
Pesticidas químicos são os chamados agrotóxicos: inseticidas, fungicidas, herbicidas, fumigantes, nematicidas, acaricidas, desfolhantes e dissecantes, usados no combate de pestes diversas, insetos, fungos, plantas, bactérias, nematóides, ácaros e outros seres vivos indesejáveis, daninhos, invasores, considerados “inúteis’ para a produção agrícola.
Resíduos nos alimentos, contaminação da água e exposição durante as aplicações são algumas das formas que o agrotóxico chega até nossa mesa e dentro de nosso organismo. Os níveis aceitáveis, toleráveis e “seguros” de resíduos e exposição à esses produtos ainda é uma discussão em aberto em todo o mundo, e mesmo se a cultivos que não utilizam venenos estão sujeitas à contaminação.
A contaminação das lavouras que não utilizam agrotóxicos se dá pelo que chamamos de deriva. Há dois tipos de deriva: do vapor e aerotransportada. A deriva do vapor ocorre se um produto volátil é associado ao arraste pelo vento. A deriva aerotransportada ocorre quando o produto se move para fora do alvo durante a aplicação, e isso tem algumas causas prováveis: condições climáticas desfavoráveis, equipamentos em condições inadequadas de uso,
aplicação inadequada ou acima do permitido para a cultura.
O Sul do Brasil é uma das regiões de maior incidência de utilização de agrotóxicos no país. Mais de 50% dos estabelecimentos agrícolas no Rio Grande do Sul utilizam agrotóxicos. A laranja, o abacaxi, a couve, a uva e a alface são os alimentos in natura com maior índice de resíduos de agrotóxicos com potencial de “risco agudo” para o consumidor. Dos 44 agrotóxicos autorizados para o cultivo da banana, 7 são proibidos na União Européia. Dos 77 agrotóxicos autorizados para o cultivo da uva no Brasil, 13 são proibidos na União Européia.
A região sul também está entre as regiões de maior índice de intoxicação por agrotóxicos do país e de maior incidência de tentativas de suicídio relacionados à agrotóxicos. Os afetados são homens, mulheres, populações indígenas, bebês. Dores de cabeça, alergias, dificuldade para dormir, problemas respiratórios graves, depressão, distúrbios hormonais e psicológicos, infertilidade, malformação congênita e câncer são alguns dos desequilíbrios associados ao uso ou intoxicação por agrotóxicos.
Entre 1999 e 2009 foram detectados cerca de 62000 casos de intoxicação por agrotóxicos, numa média de 15 casos por dia. Entre 2007 e 2014 foram notificados cerca de 25000 casos, sendo 5500 somente na região Sul. Estima-se que para cada caso notificado, porém, 50 permaneçam não notificados, o que somaria por volta de mais de 1.500.000 de casos em apenas uma década. Entre 2017 e 2018, foram encontrados resíduos de agrotóxicos acima do limite permitido ou proibidos para cultura em mais de 20% de todos dos alimentos avaliados pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária Brasileira.