Vinho de jaca
“Vinho” assim mesmo entre aspas, pois nossa legislação diz que vinho é só de uva. Mas pra não falar “fermentado alcoólico de fruta”, tomo a liberdade poética de usar o vinho “aspado”.
Na Índia se faz muito “vinho” de jaca. É fruta abundante por lá. Aqui no Brasil sempre se fez vinho de caju ( em 1900 o Ceará exportava vinho de caju pra Alemanha e Estados Unidos ), de jabuticaba ( os missionários jesuítas eram recebidos com vinho de jabuticaba muitas vezes ), e sempre se fermentou abacaxi, milho, mandioca, Araçá, jenipapo, sapoti.
Nossos índios fermentavam alcoólicos sim – com concepções bem diferentes sobre a embriaguês, mas fermentavam, e pasmem, nossos Tupi guaranis e Gê faziam até mesmo hidromel. Motivo? Mel abundante.
Essa máxima de “fruta local abundante = fermentado alcoólico” é bastante lógica e explica boa parte do surgimento das bebidas alcoólicas ancestrais. Onde tinham mel, fermentavam mel. Onde tinham milho, fermentavam milho, onde tinham uva….
Pois é. Não é à toa que o vinho “nasceu” ali na região da Geórgia. Por lá a uva é local e abundante, então é mais do que óbvio que a galera ia começar a fazer fermentados de…. uva.
Bom, aqui no Brasil a uva, assim como muitas outras frutas, veio com os europeus. E daí foram se misturando as tradições fermentativas europeias e indígenas, frutas daqui e frutas de lá.
Em 1670 já tínhamos registrados mais mais de 30 tipos de fermentados diferentes de frutas, raizes, mel, e as infinitas variações deles.
Ué, mas se temos tanta abundância de fruta por esse Brasilzão afora e tanta tradição de receitas locais de fermentados alcoólicos, porque é difícil encontrar essas coisas?
Parte por preconceito, parte porque isso faz parte daqueles “conhecimentos ancestrais” que a gente vai deixando de lado, parte porque as legislações são falhas, parte porque o agronegócio expulsou muita gente do campo, parte porque a indústria alimentar quer encaixotar nossa comida e nossas cabeças, parte porque ainda temos aquele pensamento besta e cruel da síndrome de vira lata, que faz com que a gente beba um vinho chileno e não um vinho brasileiro.