Divagações, Vinhos

“Vinhos” de outras frutas.

Sim, não existem registros de variedade de uva sul americana.

As videiras chegaram aqui com os europeus por volta dos 1500 – aliás, como muitas frutas que a gente julga brasileiras, como coco, manga, jaca…… que também vieram com as navegações e acabaram adotando o Brasil como pátria.

A gente deglutiu e assimilou o cultivo e a fermentação da uva de gulosos mesmo que somos – pelo menos em algumas regiões do país – por conta da influência européia na colonização e chegada posterior das culturas italianas e alemãs com nossos imigrantes do século 19.

Quando digo que devemos olhar além e explorar outras bebidas, não digo que precisamos parar de beber vinho: deusmelivreguardedisso…. mas aqui no paraíso tupiniquim, onde em se vinificando tudo dá, a gente poderia pelo menos ser um pouquinho mais criativo do que anda sendo. Até porque conhecer e valorizar tradições e feitios locais, estimular a produção limpa e modos de consumo conscientes, nada mais é do que resgatar nossa autonomia cultural e possibilidade de escolha.

Quem valoriza um bom aluá ou ao menos sabe o que é um caxiri, com certeza tem um olhar mais empático para a produção brazuca do próprio vinho de uva.

É. Quanto mais culturalmente engajados nos tornamos, melhor escolhas fazemos.

E esse negócio de fazer “vinhos” de outras coisas não é coisa moderninha não, não é a nova moda no mundinho natureba.

Aqui no Braza em 1663 já eram registrados mais de 30 tipos de fermentados alcoólicos, feitos com frutas locais ou “trazidas” e já adaptadas, muito milho, mandioca, abacaxi, sapoti, mel, raizes.

“Vinhos” de abacaxi, caju, jenipapo, batatas doces, milho, banana, mel, mandioca e suas infinitas derivações de mastigação, fervura, diluição e misturas eram e são encontrados em todo o território brasileiro, embora sua incidência tenha diminuído ou desaparecido com o surgimento e crescimento dos centros urbanos. Pacobi, Nanaí, Ietici, Ianipaba, Beeutingui, Tipiaci, Abatií, Aipij, Caoí – são alguns dos vinhos indígenas de frutas, raízes e grãos documentados na primeira metade do século XVII.

#criadosoltovinhosnaturebas

28/6/2021
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