Casa de comida indígena de Manaus.
Caxiri de cará roxo. Aluá de abacaxi. Tarubá de beiju de macaxeira.
Todos esses são fermentados alcoólicos indígenas que boa parte dos brasileiros não tem idéia que existem.
O aluá pode ser feito de milho, mandioca, ou frutas. Muitas das vezes é feito com abacaxi, e ao longo da história começaram também a adicionar garapa ou rapadura na fermentação.
O Caxiri é como genericamente se chamam muitos dos fermentados alcoólicos indígenas: aqui foi feito de cará roxo amazonense, mas muitas vezes feito com mandioca, com adição ou não de frutas.
O tarubá, menos conhecido dos três, é feito com beiju de macaxeira ( mandioca brava ): depois da massa e da extração do tucupi, se faz o beiju torrado, que é guardado para fermentar ( às vezes em folhas de bananeira ). Esse beiju depois é diluído em água, e a bebida fermenta até atingir a formação de álcool.
É. Existem inúmeros fermentados alcoólicos indígenas na nossa tradição brazuca, afinal, muito antes do Brasil se chamar Brasil, já existiam povos por aqui que dominavam técnicas de fermentação – e sim, alcoólicas, pois a visão de que indígenas não bebiam álcool é falsa.
Obviamente que a ingestão de bebidas alcoólicas, no pensamento e cultura indígenas, era completamente diferente do “nosso” pensamento que temos hoje: e muito mais ligado à nutrição ( pois eram também alimentos ), e a funções sociais, espirituais e ritualísticas.
O mundo dos fermentados alcoólicos ancestrais é gigantesco, e aqui no nosso brazilzão a gente tem inúmeros exemplos pra matar a sede alcoólica, cultural e espiritual de muita gente.
Eu vim pra Amazônia pra tentar aprender mais sobre isso e visitar uma galera que ainda está fazendo fermentados ancestrais ( ou está produzindo de maneira moderna fermentados com ingredientes nativos ).
Ou seja, ainda vou ter muita história pra contar e compartilhar sobre isso aqui.
Esses de hoje provei aqui no @casa_de_comida_indigena_manaus .
Quinhapira de cará, batata doce e pacová. Xibé de açaí. Farofa de sahai e maniwara. Puqueca de tambaqui. Matrinxã assado na folha. Quinhapira de tambaqui. Beiju.
Não precisa se assustar se você não conhece metade das coisas aí de cima. Eu também não conhecia.
São preparos essencialmente indígenas, e mais do que isso, de uma etnia específica, a Tucano.
Esse é parte do cardápio da @casa_de_comida_indigena_manaus , ( no mesmo edifício da casa de medicina indígena ) – e por incrível que pareça, é o primeiro restaurante “indígena mesmo” de Manaus.
Parece um contra senso, mas é a realidade. E a boa notícia é que eles dão um banho de cultura, de cozinha e de tradições de medicina e pensamento indígena pra todo mundo que entra pela porta.
Na foto, o xibé. Tradicionalmente farinha + água, mas aqui, com açaí. Sem açúcar, sem nada, servido como “sobremesa”. Genial, delicioso, fortificante e pra lá de refrescante.
A quinhapira, típica tucano ( mas também presente em outras etnias “irmãs”, é um caldo com pimentas ( aqui, uma mistura delas, todas defumadas ) que pode levar tucupi, peixes variados….. & minha versão vegeta levou com cará, batata doce e pacová.
A farinha de mandioca acompanha, e as farofas de sahai e maniwara ( dois tipos de formigasssss ) também. Os bichinhos podem ser consumidos também como petiscos.
Beiju de tapioca é o mais “conhecido” dessa turma, e vou dizer…… foi o melhor da vida, certeza. Mergulhado no caldo pra lá de apimentado da quinhapira, ficou uma coisa de doido.
Ah! E são também os beijus ( mas fermentados ) que dão o start pra “alcoolizar” o tarubá, fermentado alcoólico que eles servem por aqui também.
( na dúvida, comam e bebam o menu inteiro )
Foi o que eu fiz. E torcendo por mais restaurantes indígenas “mesmo” por esse Brasilzão afora.