Caxiri de cará.
O Caxiri é como genericamente se chamam muitos dos fermentados alcoólicos indígenas: aqui foi feito de cará, mas muitas vezes feito com mandioca, com adição ou não de frutas.
Cará bem cozido na água por várias horas, daí adiciona mel, garapa de cana ou açúcar, rapadura ( uma fonte de açúcar ) e deixa “descansando” uma noite. Dia seguinte ferve de novo, daí coloca em potes ou garrafas ou fermentadores e espera fermentar.
Antigamente os fermentados de raízes ou grãos, em muitas comunidades tradicionais, eram feitas pelo processo de “insalivarão”, ou seja, usar a enzima ( ptialina ) presente na saliva pra converter os açúcares grandes ( amido ) em açúcares menores, possibilitando a fermentação. Pra isso, se mastiga a massa de mandioca cozida ou de cará cozido num recipiente, e daí a fermentação começa lindona.
Ao longo da história muita gente começou a ficar com “nojinho” de cervejas insalivadas ( teoricamente, no mundo das bebidas ancestrais, fermentados de raizes e grãos são cervejas ) e de vinhos pisados com os pés. O que é uma bobeira sem tamanho, pois o nosso pânico de “germes” e “microorganismos” é muito mais uma histeria do que uma verdade. Mais de 95% dos micro-organismos no mundo são extremamente benéficos ( e úteis ) para nossa saúde e vida prática.
( mas se eu for aqui fazer uma longa linha do tempo de todo o processão de pensamento “estéril” que levou a gente a ter nojinho de bactéria e achar que terra é sujeita, vou levar 2 anos escrevendo )
Fato é que mesmo comunidades tradicionais começaram a fazer seus fermentados com outros métodos: ao invés da insalivação, cozimento e adição de açúcar, por exemplo.
( num país que foi colônia de açúcar podemos assumir o quanto isso foi relativamente fácil )
Essa receita é uma delas: um Caxiri feito pelos indígenas da etnia Tucano, no Amazonas.
( eu provavelmente não fiz tão bem quanto eles, mas estou bem curiosa com o resultado … aliás, falei bastante deles nos meus posts sobre a viagem da Amazônia, no #criadosoltoamazonia )