Divagações, Viagens, Vinhos

Hans Staden.

Sampa, Manaus.

#criadosoltoamazonia.

No bolso, Hans Staden, leitura da viagem. Não tem a ver, mas tem a ver. Staden, famoso Staden, aquele que descreveu pro mundo os rituais antropofágicos tupis, foi feito prisioneiro pelos tupinambás … mas não, não, não foi na Amazônia, foi em Bertioga mesmo , litoral de São Paulo.

Só que claro, no meio disso tudo ele se deparou com que? Com as cauinagens e todos os fermentados alcoólicos de mandioca e milho de 1500 e bolinha aqui no Brasil.

Ligação entre Manaus e Hans? Ué, não é tão difícil assim imaginar. Eu vim pra cá justamente pra aprender mais sobre nossa tradição de fermentados indígenas, além
de visitar produtores de fermentados de frutas nativas “modernos”.

Mas falemos de Hans.

Staden tinha 20 e tantos e não, não era um alemão bonzinho que, coitado, foi preso pelos tupinambás. Ele era um aventureiro mercenário como muitos de sua época, em busca de riquezas e aventuras no novo mundo – e depois de muita história e duas viagens pro Brasil, ele foi feito prisioneiro em Bertioga.

Bertioga era o limite fronteiriço de territórios tamoio e tupiniquim, sendo que os tamoios eram aliados dos franceses e não dos portugueses. Os portugueses tinham apoio dos tupiniquins, e os tupiniquins eram inimigos dos tamoios. Ufa. Ah, e o forte São Felipe da Bertioga ainda está lá e provavelmente lembra de tudo, embora esteja em péssimo estado de conversação, como tudo em nosso país que está relacionado com nossa história.

Staden não era totalmente analfabeto, mas quase: e não foi ele que escreveu o livro, e sim um tal doutor Dryander, alemão estudioso de matemática e cosmografia, que “reviu, corrigiu e quando necessário, aperfeiçoou o original”.

Cosmografia? É a descrição e medição dos países, cidades e estradas.

O livro se tornou um sucesso desde seu lançamento em 1557, sendo que no século 18 já existiam mais de 70 edições da obra, em inúmeras línguas diferentes.

Embora nas paradas de sucesso desde 1500, foi lançado no Brasil, em edição “confiável” ( a primeira de 1892 estava cheia de erros de tradução ) somente em 1900, e….. vejam só, foi inspiração para muitos poemas de Gonçalves Dias e romances de José de Alencar, além de claro, o Abaporu de Tarsila do Amaral e o movimento antropofágico de Osvald de Andrade. Só. Ah! Até Portinari bebeu da fonte de Staden em suas xilogravuras.

O livro não fala somente dos costumes indígenas, mas de todo um cenário histórico: a exploração das colônias, especiarias das índias, jesuítas indo em direção ao rio da prata, Brasil e Peru “recém descobertos”, última parada nas Ilhas Canárias antes de navegar quase 100 dias até as Américas, abastecimento e troca de vinhos e videiras pelos portos, “selvagens africanos” que pertenciam aos colonos, Portugal brigando com Espanha, todo mundo brigando com a França, além de muita pirataria francesa rolando pelos mares.

Além de Tomé de Souza, Staden conviveu com os jesuítas Manoel da Nóbrega, Jose de Anchieta, o capitão espanhol Juan Salazar e os chefes tribais Cunhambebe e Aimberê. Ou seja, viveu na pele ( mesmo ) muito do que a gente aprende nas aulas de historia.

Bertioga, Boisssucanga, Ubatuba. Pra galera de Sampa que cresceu indo pro litoral Paulista, é leitura imperdível. Imaginar a piratada toda por lá, as guerras e mutretas entre indígenas e europeus, é fantástico.

O que tem a ver com meu rolê em Manaus? Ué, já disse no último post: vim pra cá aprender mais sobre os fermentados alcoólicos indígenas Brazucas ( coisa que o Staden relata detalhadamente no livro ), além de visitar também alguns outros produtores de vinhos de frutas nativas “modernos”.

Acompanhem … e quem tiver, aceito dicas de lugares, produtores e gente criada solta: #criadosoltomanaus . 🤟🏻🍷

1/10/2021
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