Poda de inverno | poda dupla | poda invertida.
O assunto é: quem nunca ouviu que “esse vinho é natural pois usa poda invertida| dupla | de inverno”?
Eu já. Mas isso é mais uma das lendas perigosas de sommelier urbano.
Essa poda foi desenvolvida como técnica vitivinícola para adaptação de videiras em lugares chuvosos, frios, úmidos. Você altera o ciclo de produção, ela “escapa” da chuva, concentra mais açúcar. Na teoria, você também acaba tendo menos necessidade de fungicidas e um vinho mais alcoólico e maduro que se adequa “ao mercado”.
Ok. Mas dizer que é um manejo ecológico e por isso o vinho é natural, é forçar a barra. Vinho natural = agricultura ecológica + vinificação sem insumos. Só.
A questão é que o nome “poda” confunde. Mas o manejo não se trata apenas na “poda” em si, ou seja, cortar a planta em época diferente. Você usa insumos agrícolas para induzir dormência e quebrar essa dormência. Insumos sintéticos, mais e menos tóxicos. E não necessariamente isso acaba com a necessidade de fungicidas.
Por exemplo? Para fazer as videiras dormirem no verão, é muitas vezes usado sulfato de cobre + uréia, em grandes quantidades, que queima as folhas e induz a dormência. No inverno, são usados produtos como um fitohormônio pra lá de tóxico para quem aplica – embora não seja cumulativo no ambiente – que se chama DORMEX ( genial pois tem até nome de remédio pra dormir mesmo, mas é pra “acordar” a planta ).
Não estamos aqui demonizando a poda. Mas a afirmativa de que é um manejo ecológico e que não leva veneno, é falsa.
Conheço até mesmo algumas vinícolas que diminuíram a aplicação de veneno sim. Mas continuam fazendo um cultivo convencional. E ok. Não precisa ser natural, não precisa ser orgânico.
Mas o bebedor tem que saber o que é o que, pra poder escolher com consciência.