As Tinturas, os bitters e os amaros.
As tinturas são “infusões” em álcool. São plantas secas ou frescas, infusionadas em álcoois diversos, preparadas à temperatura ambiente. Pode ser feita pela ação do álcool sobre uma só erva (tintura simples) ou sobre uma mistura de ervas (tintura composta). Este método assegura uma longa preservação das ervas e de seus nutrientes.
Você pode usar uma variedade grande de álcoois para as tinturas, e vai muito também da sua intenção. Se é pra uso externo ou interno, por exemplo ( vodka, cachaça, gin, grappa, álcool de cereais ). O álcool deve ter no mínimo 40% de volume alcoólico, além de extrair os componentes benéficos das plantas, ele vau para impedir o crescimento de fungos no seu preparado. Tinturas são também métodos de conservação no álcool.
A tintura pode ser tomada, diluída em água fria, usada com conta gotas ou aplicada externamente na forma de unguentos e fricções. Pode ser usada posteriormente na formulação de pomadas e cremes. É uma das queridinhas da medicina tradicional pois é uma maneira muito eficaz de concentrar os componentes das plantas, além da facilidade de transporte, utilidade para tratamentos de longa duração, e grande capacidade de ser absorvida rapidamente pelo organismo.
Interessante lembrar que no princípio da história da medicina, o destilado era chamado de “exilir da vida”, e tratado, por si só, como uma medicina. Vale também refletir sobre a destilação de cada elemento e seu álcool: a destilação do vinho de uva dará origem a um álcool especifico, assim como a destilação de cereais fermentados, arroz fermentados ou outras plantas fermentadas dará origem a álcoois distintos e com propriedades médicas, sensoriais e espirituais diferentes. Na espagiria se utiliza muito a destilação de elementos vegetais para elaboração de tinturas espagíricas: infusões do extrato da planta no álcool destilado daquela própria planta.
Outra vantagem das tinturas é que elas mantêm os nutrientes das plantas em uma forma estável, solúvel e retêm os ingredientes voláteis e semi-voláteis, que, de outra forma, são perdidos no tratamento térmico e no processamento de extratos de ervas secas. Como é um método que extrai bastante da planta, é muito bom para materiais fibrosos ou lenhosos, raízes e resinas. Mas pode ser aplicado em qualquer tipo de erva, caule, folha ou flor.
As tinturas podem se também base para extração de óleos essenciais em álcool: por extração e posterior evaporação. Uma técnica simples é deixar uma tintura feita com álcool etílico absoluto ( perto dos 100% ) aberta para evaporação. O resultado será, no fundo do recipiente, certa quantidade de óleo essencial do elemento infusionado.
Em linhas gerais, se for pra dar uma idéia, a proporção habitual de planta seca numa tintura é de cerca de 10% em relação ao volume de álcool diluído ( uma bebida com 60% de álcool é um álcool diluído, por exemplo…). Nas tinturas com plantas frescas, podemos usar álcool puro, pois a planta vai soltar água durante o processo – então temos que tomar cuidado para a diluição não baixar muito daqueles 40% que falamos ali em cima.
O recipiente para a elaboração das tinturas deve ser de vidro ou cerâmica. Evite usar recipientes metálicos ou de plástico, pois estes podem reagir com a tintura ou liberar substâncias perigosas ao longo do tempo. A armazenagem deve ser feita em frascos escuros, em local fresco, seco e de preferência com ausência ou pouca luminosidade, se tomarmos partido da escola de medicina Galênica, que dominou a Europa por muitos séculos. Se optarmos pela escola espagíria, de base alquímica, as tinturas devem ter contato com a luz e energia solar – uma boa literatura para medicina espagíria é Paracelso.
Uma vez preparada a infusão do álcool e da erva, é só deixar “apurando”, ou seja, em maceração, em infusão. O tempo varia de planta pra planta, de preparado para preparado, mas vai em geral de alguns dias até meses. Materiais mais duros requerem mais tempo. Mais brandos, menos. Invariavelmente, quanto mais tempo, mais concentrada ficará sua tintura.
Os usos são diversos. Tinturas calmantes que você toma uma colherinha diluída em água durante a noite, antes de dormir. Tinturas estimulantes de apetite ou de ânimo. Tinturas para serem aplicadas na pela contra picadas de mosquitos e inflamações. Tinturas para serem diluídas e aplicadas como preventivo de formigas. São infinitas as possibilidades.
Para 1 l de destilado você pode usar 200g de planta seca ou 300g de planta fresca. O álcool deve estar entre 40% de graduação alcoólica.
Dosagem: 5ml ou 1 colher de chá, 2 q 3 vezes ao dia, diluído em água.
Os bitters:
São tinturas amargas, utilizadas muito no preparo de coquetéis. Tem origem medicinal nas tinturas preparadas com plantas e elementos amargos. Muitos dos bitters surgiram como medicamentos tônicos e digestivos, sendo posteriormente patenteados e vendidos como base para coquetéis. O próprio nome “cocktail” vem do costume de agregar bitters aos vinhos, para deixá-los mais saudáveis. Foi uma prática muito popular nas colônias Britânicas do século 19. Os mais comuns são os de laranja e especiarias, passando por ervas e cascas amargas e quinino. O bitter Angostura, por exemplo, nasceu na Venezuela, em 1830.
Os amaros:
São as versões italianas – e muito famosas – de bebidas amargas, também com origens nas medicinas tradicionais que inficionavam ervas, cascas, frutas e flores em álcool, para fins curativos. O grande diferencial é que eles já nasceram “prontos” pra beber, com açúcar e diluição, diferente dos bitters que devem ser diluídos ou misturados.
O hábito de tomar um amaro como digestivo ou estimulante ainda é corrente em muitos lugares. No Brasil chamamos os amaros de “digestivo”, e o famoso “Cynar”, que embora seja italiano já faz parte da nossa cultura, é um amaro de base de folhas de alcachofra. Existem os Amaros secos e os Amaros doces, adoçados com açúcar de cana, beterraba, mel, mascavo, na maioria com “receitas secretas de família”.