Vinhos

As uvas missioneiras & o vinho na América Latina.

A primeira viagem de Cristóvão Colombo da Europa até o Caribe, em 1492, durou aproximadamente 36 dias. Colombo partiu do porto de Palos de la Frontera, no sul da Espanha, em 3 de agosto de 1492, com três caravelas: a Santa Maria, a Pinta e a Niña.  Após uma breve parada nas Ilhas Canárias para reabastecer e fazer reparos nos navios, ele avistou terra em 12 de outubro do mesmo ano. 

Cristóvão Colombo e sua tripulação com certeza levavam vinhos a bordo durante sua viagem para as Américas, mas é difícil determinar com precisão quais vinhos específicos foram transportados.  O vinho era essencial para qualquer expedição na época, pois além de servir como bebida alcoólica, alimento e medicina, era uma fonte segura de líquidos – pois a água a bordo de viagens longas frequentemente se deteriorava. Não podemos esquecer da importância do vinho na liturgia cristã, seja na missa diária realizada a bordo pelos padres que viajavam pelos mares, seja nas missas de conversão dos povos pagãos do novo mundo ao cristianismo. 

Podemos imaginar que os vinhos levados a bordo por Colombo eram provenientes de regiões vinícolas tradicionais da Espanha naquele século XVI, como os vinhos das regiões de Jerez , na Andaluzia – de onde saíram as primeira Caravelas para as Américas – além das regiões como Rioja, Málaga, Ribera del Duero, Navarra, Toledo e Valdepeñas. É bastante possível que algumas garrafas de vinhos doces da uva Malsasia, produzidos nas ilhas Canárias, também tenham chegado com os primeiros eurepeus em solo americano, afinal, as Canárias eram um ponto de parada estratégico para abastecimento das embarcações antes de seguirem viagem para o Oeste. 

Além de barris e garrafas de vinho, foram levadas sementes. As uvas provenientes das Ilhas Canárias desempenharam um papel importantíssimo na viticultura do Novo Mundo, e as primeiras videiras européias trazidas de lá foram plantadas nas regiões do atual Caribe, Peru e México. A partir daí, o cultivo da videira se espalhou para outras partes da América do Sul, como Argentina, Chile e Bolívia. 

Uma das principais variedades de uvas trazidas das Ilhas Canárias foi a Listán Prieto, uma uva tinta, e a Listán Blanco ( conhecida como Palomino ) , uma uva branca. A Listán Prieto, conhecida como Mission nas Américas foi uma das uvas tintas mais importantes trazidas para o Novo Mundo. Ela se adaptou bem ao clima de diversas regiões americanas, especialmente no México, Califórnia, Peru e Chile. Nos Estados Unidos, essa uva ficou conhecida como Mission Grape e amplamente plantada nas missões espanholas da Califórnia. No Chile, ela também é conhecida como País, e no Peru como Criolla.

As missões foram empreendimentos religiosos e culturais conduzidos nas Américas por europeus entre os séculos XVI e XVIII, com o objetivo de converter indígenas ao cristianismo, integrá-los ao sistema colonial e consolidar o controle territorial. Lideradas por ordens como jesuítas e franciscanos, as missões criavam aldeamentos (reduções) onde os indígenas eram educados na fé cristã, na língua europeia e em habilidades agrícolas e artesanais – o que resultou, é claro, na perda de línguas e de tradições indígenas. Exemplos incluem as Missões Jesuíticas na América do Sul e as missões espanholas na América do Norte e Central.

Essas primeiras variedades de uvas que se adaptaram ao clima americano são chamadas até hoje e uvas pioneiras ou missioneiras. Foram cultivadas por colonizadores espanhóis durante séculos para a produção de vinhos e influenciaram profundamente as tradições vitivinícolas posteriores nesses países. 

A partir dessas primeiras variedades de vitis vinífera, principalmente Listan Prieto e Moscatel de Alexandria, outras variedades começaram a surgir a partir de cruzas e derivações espontâneas, e atualmente apelidadas, genericamente, de uvas crioulas. Aqui temos variedades como Negra Criolla, Quebranta, Mollar, Itália e Torrontel no Perú, a Criolla Chica, Criolla Grande, Cereza e Pedro Giménez na Argentina, a Vischoqueña na Bolívia, entre muitas outras.

Durante praticamente quatro séculos as uvas missioneiras e crioulas dominaram o cenário do vinho na América Latina – embora muitas variedades européias tenham sido introduzidas e vinificadas em solo americano. Para a elaboração desses vinhos  coloniais, frequentemente eram utilizados barris e barricas fabricados a partir de madeiras locais como o Rauli, a Araucária, o Ipê, o Cedro e o Guatambu. 

Nas últimas décadas o movimento do vinho natural latino americano busca resgatar não apenas as uvas missioneiras e crioulas, como também os métodos e madeiras tradicionais de cada país. Um exemplo são os Pipeños chilenos que conquistaram o mundo do vinho natural nas últimas décadas: um vinho leve, simples, fluido e gastronômico elaborado com uvas missioneiras e estagiados em grandes barris de Raulí. 

21/4/2025
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