Pessoas teimosas plantam tomates.
Pessoas teimosas plantam tomates. Pessoas teimosas plantam tomates, eles morrem com a chuvaradas, elas plantam de novo. Eles nascem, meia dúzia morre de susto, meia dúzia amadurece, ficam lindos e vermelhos e sedutores e brilhantes… e os insetos e os bichos numa bela manhã comem todos antes de você pensar em colher. Pessoas teimosas plantam tomates de novo, eles nascem, vem chuva outra vez, aparece o sol, e eles queimam todos como vampiro na luz do dia.
Pessoas teimosas querem muito plantar tomates. Trazem sementes na mala de contrabando, cobrem o canteiro, penduram os tomateiros com os raminhos pra cima, um a um em um fio, como se fossem marionetes ou bailarinas. Então os cachorros resolvem correr atrás de um dos gatos, os tomates fazem um psiu, cara, tira a gente daqui, os cachorros pulam nos canteiros, cai cobertura, cai fio, já era, cai projeto de tomate.
Pessoas teimosas plantam tomates. Mas pessoas teimosas também cansam, também uma hora desistem de dar murro em ponta de faca. Então os tomates, que tem mais coração que muita gente por aí, sentem pena da fragilidade e da teimosia humana, se reúnem, confabulam, despertam as sementes, chamam os ventos e os passarinhos, pedem favor pro sol e pra chuva, resolvem se espalhar pelo terreno. Brotam em lugares ermos, invadem o canteiro de pimentas, trepam sorrateiros na goiabeira, tomam o alambrado dos chuchus.
Pessoas teimosas plantam tomates. Mas os tomates não se deixam plantar assim de cara, gostam mesmo é de brincar com a gente, de esfregar na nossa cara essa mania besta de querer controlar tudo. E quando a gente menos espera, quando já está em outra, tudo superado, a cabeça ocupada com as cenouras que nunca nascem retas…. a gente dá de cara, assim, com uma rama de tomate madurinha, escondida lá depois dos jilós. E do lado dela mais outra, e mais outra, e mais outra.
