Criado Solto: Eduardo Zenker, Arte da Vinha
“Tem outro amigo meu que também faz vinificação natural. Vocês têm que conhecer o alemão, gurizada.” Estávamos na praia do Rosa, onde morava Lizete Vicari, vinhateira, na época. Era nossa primeira parada da viagem.
Já tínhamos ouvido falar no tal do Zenker, que fazia uma vinhos na garagem da casa dele, em Garibaldi. Mas não o conhecíamos pessoalmente, nem havíamos ainda provado seus vinhos: Estávamos de caravana de São Paulo para o Rio Grande do Sul, na intenção de ver com os próprios olhos o que estava se fazendo em termos de vinho artesanal e natural por esse Brasil afora.
Quando decidimos trabalhar somente com vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos de pequeno produtor, imediatamente se tornou necessária uma pesquisa sobre o que existia nesse sentido sendo feito no Brasil. Afinal, lá fora o tema já estava fervilhando, e aqui no paraíso tupiniquim, pouco se falava disso. Era por volta de 2015, não muito tempo atrás. O que aconteceu no cenário de vinhos brasileiros em menos de cinco anos foi realmente impressionante. Os vinhateiros artesanais de vinificação natural roubaram a cena dentro do país e fora dele, e talvez hoje sejam as melhores expressões de um vinho genuinamente brasileiro.
A porta da garagem se abriu e lá dentro estava Eduardo Zenker. “Essa aqui é a Macarena” foi sua primeira frase. Ele se referia à caminhonete que ele usava para transportar as uvas que iria vinificar. Entrar por aquela porta foi entrar num mundo que até então não havíamos visto no Brasil. Um mundo mais de alquimia do que de vinificação – se é que não se misturam. Mais de artesãos do que de enólogos, mais de coração do que de escola. Zenker vinificava tudo, de todas as formas. Sua idéia era vinificar a maior quantidade de uvas possíveis com as próprias mãos, para entendê-las, aprender com elas, e depois um dia aplicar esse conhecimento com as uvas de seus próprios vinhedos de Chardonnay e Pinot. “ Eu não ia vinificar aquele Cabernet. Mas ela olhou pra mim e me pediu pra virar vinho. Daí não deu, tive que pegar…”. E lá ia Zenker com sua Macarena serra adentro, resgatando pequenos lotes de uvas, dos pequenos produtores da região.
Zenker fez parte da primeira geração de vinhateiros que ousaram vinificar de maneira natural em terras brazucas. Bem sabemos que o vinho hoje no nosso país é regido pela indústria, e uma série de dificuldades criadas para os pequenos produtores e artesãos do setor fizeram com que cada vez mais a figura do vinhateiro colonial, de chão de terra batido, virasse apenas folclore nacional.
Os pioneiros do movimento de vinificação natural nas últimas décadas, Álvaro Escher e Marco Danielle, foram seguidos por outros vinhateiros como Lizete Vicari, Marina Santos, Eduardo Zenker a cerca de uma década. Por algum inconsciente-consciente coletivo, muitos começaram a fazer vinhos de maneira natural, sem intervenção, mais por intuição do que por movimento. A maioria começou a se apegar à idéia de fazer vinhos sem veneno, sem aditivos, sem máscaras, “como se fazia antigamente”.
Hoje em dia os vinhateiros brasileiros “Naturebas” já estão na sua segunda geração e tem plena consciência de que, muito mais do que apenas vinho, eles estão fazendo política.
O cultivo de uvas orgânicas é política. A vinificação de uvas orgânicas de pequeno produtor é política. A vinificação natural sem os insumos industriais é política. Tudo isso faz parte de um movimento de resistência a um sistema industrial que renega o pequeno produtor à ignorância, à dependência e à idéia de que “não é possível”. E alguém que é levado a acreditar que não é possível uma vida além dos limites da agroindústria, é facilmente manipulado por ela.
Não depender de insumos da indústria enológica ou do agronegócio é mais do que cuidar da saúde do vinho, da nossa saúde e da saúde do planeta: é resgatar a autonomia de quem está no campo produzindo ou vinificando, é lembrar que somos sim autossuficientes, e que tudo o que precisamos está nas nossas mãos, na nossa cabeça e na natureza.
Num país onde os peque“Tem outro amigo meu que também faz vinificação natural. Vocês têm que conhecer o alemão, gurizada.” Estávamos na praia do Rosa, onde morava Lizete Vicari, vinhateira, na época. Era nossa primeira parada da viagem.
Já tínhamos ouvido falar no tal do Zenker, que fazia uma vinhos na garagem da casa dele, em Garibaldi. Mas não o conhecíamos pessoalmente, nem havíamos ainda provado seus vinhos: Estávamos de caravana de São Paulo para o Rio Grande do Sul, na intenção de ver com os próprios olhos o que estava se fazendo em termos de vinho artesanal e natural por esse Brasil afora.
Quando decidimos trabalhar somente com vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos de pequeno produtor, imediatamente se tornou necessária uma pesquisa sobre o que existia nesse sentido sendo feito no Brasil. Afinal, lá fora o tema já estava fervilhando, e aqui no paraíso tupiniquim, pouco se falava disso. Era por volta de 2015, não muito tempo atrás. O que aconteceu no cenário de vinhos brasileiros em menos de cinco anos foi realmente impressionante. Os vinhateiros artesanais de vinificação natural roubaram a cena dentro do país e fora dele, e talvez hoje sejam as melhores expressões de um vinho genuinamente brasileiro.
A porta da garagem se abriu e lá dentro estava Eduardo Zenker. “Essa aqui é a Macarena” foi sua primeira frase. Ele se referia à caminhonete que ele usava para transportar as uvas que iria vinificar. Entrar por aquela porta foi entrar num mundo que até então não havíamos visto no Brasil. Um mundo mais de alquimia do que de vinificação – se é que não se misturam. Mais de artesãos do que de enólogos, mais de coração do que de escola. Zenker vinificava tudo, de todas as formas. Sua idéia era vinificar a maior quantidade de uvas possíveis com as próprias mãos, para entendê-las, aprender com elas, e depois um dia aplicar esse conhecimento com as uvas de seus próprios vinhedos de Chardonnay e Pinot. “ Eu não ia vinificar aquele Cabernet. Mas ela olhou pra mim e me pediu pra virar vinho. Daí não deu, tive que pegar…”. E lá ia Zenker com sua Macarena serra adentro, resgatando pequenos lotes de uvas, dos pequenos produtores da região.
Zenker fez parte da primeira geração de vinhateiros que ousaram vinificar de maneira natural em terras brazucas. Bem sabemos que o vinho hoje no nosso país é regido pela indústria, e uma série de dificuldades criadas para os pequenos produtores e artesãos do setor fizeram com que cada vez mais a figura do vinhateiro colonial, de chão de terra batido, virasse apenas folclore nacional.
Os pioneiros do movimento de vinificação natural nas últimas décadas, Álvaro Escher e Marco Danielle, foram seguidos por outros vinhateiros como Lizete Vicari, Marina Santos, Eduardo Zenker a cerca de uma década. Por algum inconsciente-consciente coletivo, muitos começaram a fazer vinhos de maneira natural, sem intervenção, mais por intuição do que por movimento. A maioria começou a se apegar à idéia de fazer vinhos sem veneno, sem aditivos, sem máscaras, “como se fazia antigamente”.
Hoje em dia os vinhateiros brasileiros “Naturebas” já estão na sua segunda geração e tem plena consciência de que, muito mais do que apenas vinho, eles estão fazendo política.
O cultivo de uvas orgânicas é política. A vinificação de uvas orgânicas de pequeno produtor é política. A vinificação natural sem os insumos industriais é política. Tudo isso faz parte de um movimento de resistência a um sistema industrial que renega o pequeno produtor à ignorância, à dependência e à idéia de que “não é possível”. E alguém que é levado a acreditar que não é possível uma vida além dos limites da agroindústria, é facilmente manipulado por ela.
Não depender de insumos da indústria enológica ou do agronegócio é mais do que cuidar da saúde do vinho, da nossa saúde e da saúde do planeta: é resgatar a autonomia de quem está no campo produzindo ou vinificando, é lembrar que somos sim autossuficientes, e que tudo o que precisamos está nas nossas mãos, na nossa cabeça e na natureza.
Num país onde os pequeno produtores, o orgânico, os produtos vivos e o artesanal não são valorizados e não são comtemplados de maneira justa pelas leis vigentes, pouco a pouco vemos boa parte dessas tradições, dessa estrutura social agrária e dessas novas iniciativas desaparecerem por falta de apoio, de incentivo e esperança.
“Tem outro amigo meu que também faz vinificação natural. Vocês têm que conhecer o alemão, gurizada.” Estávamos na praia do Rosa, onde morava Lizete Vicari, vinhateira, na época. Era nossa primeira parada da viagem.
Já tínhamos ouvido falar no tal do Zenker, que fazia uma vinhos na garagem da casa dele, em Garibaldi. Mas não o conhecíamos pessoalmente, nem havíamos ainda provado seus vinhos: Estávamos de caravana de São Paulo para o Rio Grande do Sul, na intenção de ver com os próprios olhos o que estava se fazendo em termos de vinho artesanal e natural por esse Brasil afora.
Quando decidimos trabalhar somente com vinhos naturais, orgânicos e biodinâmicos de pequeno produtor, imediatamente se tornou necessária uma pesquisa sobre o que existia nesse sentido sendo feito no Brasil. Afinal, lá fora o tema já estava fervilhando, e aqui no paraíso tupiniquim, pouco se falava disso. Era por volta de 2015, não muito tempo atrás. O que aconteceu no cenário de vinhos brasileiros em menos de cinco anos foi realmente impressionante. Os vinhateiros artesanais de vinificação natural roubaram a cena dentro do país e fora dele, e talvez hoje sejam as melhores expressões de um vinho genuinamente brasileiro.
A porta da garagem se abriu e lá dentro estava Eduardo Zenker. “Essa aqui é a Macarena” foi sua primeira frase. Ele se referia à caminhonete que ele usava para transportar as uvas que iria vinificar. Entrar por aquela porta foi entrar num mundo que até então não havíamos visto no Brasil. Um mundo mais de alquimia do que de vinificação – se é que não se misturam. Mais de artesãos do que de enólogos, mais de coração do que de escola. Zenker vinificava tudo, de todas as formas. Sua idéia era vinificar a maior quantidade de uvas possíveis com as próprias mãos, para entendê-las, aprender com elas, e depois um dia aplicar esse conhecimento com as uvas de seus próprios vinhedos de Chardonnay e Pinot. “ Eu não ia vinificar aquele Cabernet. Mas ela olhou pra mim e me pediu pra virar vinho. Daí não deu, tive que pegar…”. E lá ia Zenker com sua Macarena serra adentro, resgatando pequenos lotes de uvas, dos pequenos produtores da região.
Zenker fez parte da primeira geração de vinhateiros que ousaram vinificar de maneira natural em terras brazucas. Bem sabemos que o vinho hoje no nosso país é regido pela indústria, e uma série de dificuldades criadas para os pequenos produtores e artesãos do setor fizeram com que cada vez mais a figura do vinhateiro colonial, de chão de terra batido, virasse apenas folclore nacional.
Os pioneiros do movimento de vinificação natural nas últimas décadas, Álvaro Escher e Marco Danielle, foram seguidos por outros vinhateiros como Lizete Vicari, Marina Santos, Eduardo Zenker a cerca de uma década. Por algum inconsciente-consciente coletivo, muitos começaram a fazer vinhos de maneira natural, sem intervenção, mais por intuição do que por movimento. A maioria começou a se apegar à idéia de fazer vinhos sem veneno, sem aditivos, sem máscaras, “como se fazia antigamente”.
Hoje em dia os vinhateiros brasileiros “Naturebas” já estão na sua segunda geração e tem plena consciência de que, muito mais do que apenas vinho, eles estão fazendo política.
O cultivo de uvas orgânicas é política. A vinificação de uvas orgânicas de pequeno produtor é política. A vinificação natural sem os insumos industriais é política. Tudo isso faz parte de um movimento de resistência a um sistema industrial que renega o pequeno produtor à ignorância, à dependência e à idéia de que “não é possível”. E alguém que é levado a acreditar que não é possível uma vida além dos limites da agroindústria, é facilmente manipulado por ela.
Não depender de insumos da indústria enológica ou do agronegócio é mais do que cuidar da saúde do vinho, da nossa saúde e da saúde do planeta: é resgatar a autonomia de quem está no campo produzindo ou vinificando, é lembrar que somos sim autossuficientes, e que tudo o que precisamos está nas nossas mãos, na nossa cabeça e na natureza.
Num país onde os pequeno produtores, o orgânico, os produtos vivos e o artesanal não são valorizados e não são comtemplados de maneira justa pelas leis vigentes, pouco a pouco vemos boa parte dessas tradições, dessa estrutura social agrária e dessas novas iniciativas desaparecerem por falta de apoio, de incentivo e esperança.
O mosto vai continuar a fermentar mesmo sem as leveduras da indústria. A vinha vai continuar a dar bons frutos mesmo sem os insumos agrícolas. O vinho vai continuar a evoluir na garrafa mesmo sem as altas doses de conservantes: e os vinhateiros artesanais do Brasil vão continuar a vinificar seus vinhos de maneira natural, mesmo que um ou outro caia, mesmo que um ou outro perca o fôlego. Pois o que é vivo, o que vem da alma e da terra, no fim das contas vence a batalha.
O mosto vai continuar a fermentar mesmo sem as leveduras da indústria. A vinha vai continuar a dar bons frutos mesmo sem os insumos agrícolas. O vinho vai continuar a evoluir na garrafa mesmo sem as altas doses de conservantes: e os vinhateiros artesanais do Brasil vão continuar a vinificar seus vinhos de maneira natural, mesmo que um ou outro caia, mesmo que um ou outro perca o fôlego. Pois o que é vivo, o que vem da alma e da terra, no fim das contas vence a batalha. no produtores, o orgânico, os produtos vivos e o artesanal não são valorizados e não são comtemplados de maneira justa pelas leis vigentes, pouco a pouco vemos boa parte dessas tradições, dessa estrutura social agrária e dessas novas iniciativas desaparecerem por falta de apoio, de incentivo e esperança.
O mosto vai continuar a fermentar mesmo sem as leveduras da indústria. A vinha vai continuar a dar bons frutos mesmo sem os insumos agrícolas. O vinho vai continuar a evoluir na garrafa mesmo sem as altas doses de conservantes: e os vinhateiros artesanais do Brasil vão continuar a vinificar seus vinhos de maneira natural, mesmo que um ou outro caia, mesmo que um ou outro perca o fôlego. Pois o que é vivo, o que vem da alma e da terra, no fim das contas vence a batalha.
FOTO: FABIO KNOLL