Comida, Vinhos

Livros sobre História do Vinho no Brasil.

“Parece certo que algum deus Baco passou a estas partes a ensinar-lhes tantas espécies dele, que alguns contam trinta e duas. Uns fazem de fruta que chamam acaiá, outros de aipim, outros de macaxeira, outros de pacova, a que chamam pacouí, outros de milho, a que chamam abativi, outros de ananás, que chamam nanavi, e este é mais eficaz, e logo embebeda. Outros de babata, que chamam jetivi, outros de jenipapo, outros que chamam de bacutingui, outros de beiju, ou mandioca, que chamam tepiocuí, outros de mel silvestre, ou de açúcar, a que chamam garapa, outros de cajú, e desde em tanta quantidade que podem-se encher muitas pipas, de cor a modo de palhete. Deste vi eu uma frasqueira, e se não fora certificado do que era, afirmava que era vinho de Portugal”. Crônica da Companhia de Jesus, de Simão de Vasconcelos, 1663. 

 

O Crônica da Companhia de Jesus, de Simão de Vasconcelos, é de 1663 e descreve, dentre outras várias pérolas, muitos costumes comerciais, alimentares e sociais do Brasil no século XVII. Mais de 32 tipos de “vinho” de frutas, milho e mandioca foram catalogados na época. Esse é um dos livros que estou usando como pesquisa para um artigo sobre vinho natural no Brasil, para uma revista gringa ( conto em breve, esse ano mal começou e está cheio de novidades ).

Ao meu ver, um dos grandes problemas do nosso país é a falta de interesse de nós para nós mesmos, ou seja, dos brasileiros para sua própria cultura. A tal do síndrome de vira lata é tão grande que reverbera também no mundo do vinho. Preferimos sair do país e visitar regiões vinícolas na Europa à pegar o carro e conhecer mais do Rio Grande do Sul ou do Nordeste – riquíssimos em história, e melhor do que isso, riquíssimos em NOSSA história. Não precisa parar de visitar os amigos no Chile ou ir nas feiras francesas.

Mas o mínimo de coerência seria conhecermos nossa própria história. Pois assim nos apropriamos dela, e crescemos com isso. O Brasil é um país que não tem identidade formada de vinho – nós estamos criando essa identidade – e não adianta querer olhar para o umbigo com referências estrangeiras.

A maioria dos meus próprios amigos da área não faz idéia dos meandros e  complexidades da nossa própria história do vinho, nascida desse caldeirão de influências e misturas que é o próprio país. Para quem quer saber um pouquinho mais da nossa própria história no tema, aqui vão alguns livros:

Memórias do Vinho gaúcho, Vol. 1, Rinaldo Dal Pizzol e Sérgio Inglez de Souza.

Presença do Vinho no Brasil, um pouco de história, Carlos Cabral.

Vinho do Brasil, do passado para o futuro, de Valdinei C. Ferreira e Marieta Moraes Ferreira. 

Crônica da Companhia de Jesus, de Simão de Vasconcelos, 1663. 

31/1/2020
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