Sementes crioulas.
Trouxe um monte de sementes crioulas que eu ganhei da Maria Helena, guardiã de sementes lá de São Luiz do Paraitinga. Amendoim colorido, feijão do divino, tomates da vizinha Débora, tremoço, milho preto de pipoca, milho branco. Um sem fim de sementes – e muitas delas que eu nunca tinha visto.
Sim, não existe só “milho” crioulo. Crioulo é a semente tradicional, local, que não foi modificada. Então tem milho, tem feijão, tem amendoim crioulo. Pois é. Sementes muitas vezes que passam de geração em geração dentro de famílias. O Joãozinho, da Queijaria Santo Antônio, por exemplo, está resgatando um montão de variedades de feijão crioulo regionais, como o paquinha, o enxofre.
Bom, e um guardião de sementes? O que é? Alguém que luta contra a perda da biodiversidade, colocando em potinhos e saquinhos ( e na terra ) sementes locais para que elas não sejam perdidas ou esquecidas pelo sistemão industrial agrícola ( nem por nós ).
Pra quem ainda não sabe, o problema da preservação de sementes é mundial.
Se a gente imaginar a diversidade de plantas que existem e a quantidade de coisas que cultivamos, veremos que cada vez mais cultivamos MAIS de MENOS. Ou seja, maior quantidade de menos variedades.
O milho é um caso clássico. Países “milheiros”, como nós da América, sentem cada vez mais a extinção de espécies nativas para um mundo de um milho só.
Variedades mais fáceis, mais produtivas, sempre foram escolhidas pelos agricultores, mesmo que involuntariamente. Mas essa escolha vai afunilando o leque de variedades plantadas.
Com as grandes empresas de sementes, transgenia e grandes monoculturas, o quadro radicalmente piora: pessoas que antes cultivavam espécies nativas vão pouco a pouco passando para o “maravilhoso” mundo do cultivo de milho amarelo americano, que tem já no pacote a alta produtividade e a resistência aos pesticidas.
Tirando a questão da transgenia, que nesse caso é um rolo compressor que passa em cima das espécies nativas, existe a perda da cultura e tradição alimentar ao longo de gerações que vão “afunilando” seu leque de espécies. Espécies selecionadas para serem maiores, de uma cor só, bonitas, produtivas e muitas vezes menos nutritivas vão decorando nosso triste prato de comida.
Feijões, arrozes, verduras, legumes. Cenouras pretas, beterrabas amarelas, quiabos roxos. Sementes que sempre fizeram parte da história das comunidades e das famílias, sendo passadas de geração em geração, e que estão desaparecendo.