CARAVANA NATUREBA: quinto dia, maratona com Eduardo Zenker, Maurício Voight, Jaime Fensterseifer, Lizete Vicari e Marina Santos.
Ano passado provamos de tudo um pouco. Esse ano, de mais tudo um pouco. E fiquei impressionadíssima com o crescimento da qualidade e da profundidade dos seus vinhos – sendo que já eram fantásticos.
Destaque para os laranjas e para os espumantes método ancestral que ele está fazendo. O demi sec ( espontâneo ) ancestral dele está com um quê de Champa de matar produtor francês do coração. O ancestral de Peverella, fino, fino, fino, elegante que só ele. Os laranjas são um susto – bom – à parte: complexos, gordos, vivos, aromáticos. O Sui Generis Brasilis Malvasia de Candia 2014, que vimos fermentando ano passado, está de chorar de emoção. Vai abalar corações por aí.
Durante a manhã, chegaram o Maurício Voight e o Jaime Fensterseifer.
O Maurício faz cultivo biodinâmico a mais de 10 anos em Nova Pádua, RS, na altitude de 750 metros. Recentemente começou a engarrafar seus vinhos, vinificando de maneira natural, os Pinot Noir Serena. Já se tornaram queridinhos dos nerds e aficcionados do vinho natureba brasileiro. São Pinots lindos, sensuais, delicados, encantadores. Uma pena que não deu tempo de visitar o vinhedo in loco, mas deu para bater um super papo com eles e conhecer um pouco mais do projeto e dos vinhos.
Segundo o Maurício, o vinhedo fica num “topo de monte com 4% a 6% de declividade e face Norte-Noroeste,
protegido dos ventos frios provenientes do Sul por vegetação natural e,
ao Norte-Noroeste por um desnível de 500 metros ate a calha do Rio das
Antas, situação que drena excesso de umidade e minimiza riscos de
geadas, ao passo que nos proporciona entre 800 e 1000 horas de frio ao
ano, ideais ao cultivo de viníferas Pinot Noir. Nesta situação o período
de repouso das nossas videiras é longo, 4 meses do inicio de maio ao
final de agosto, e uma consequência é a segurança na obtenção de gemas
férteis, uvas com máxima expressão aromática, sanidade e senso de lugar.”
vezes ao dia nos primeiros três dias, ao cabo dos quais inicia-se
espontaneamente a fermentação alcoólica. No período de fermentação
turbulenta a massa de mosto e sólidos é gentil e manualmente mesclada
duas vezes ao dia e é durante este processo que aproveitamos para
subtrair os engaços que se liberam das bagas em fermentação. Finda a fermentação aparente,
entre 7 e 10 dias, a maceração adicional é adaptada a personalidade de
cada safra. Após, o vinho é decantado por gravidade e manualmente para
barricas de carvalho Frances da máxima qualidade. A proporção de
barricas novas é adaptada a personalidade de cada safra (30% em 2011,
nenhuma em 2012). Nas barricas o vinho vai realizar espontânea
fermentação malolatica, durante a qual “batonage” é semanalmente
aplicada. Não usamos trasfega, o vinho é maturado por 11 a 18 meses nas
barricas (18 meses em 2011, 11 meses em 2012), sobre as borras até seu
engarrafamento, sem clarificação ou filtração. Uma única correção do SO2
livre, para 25mg/l, é procedida previamente ao engarrafamento que
também é manual e por gravidade, em dias de flor.”
Aqui estão o Eduardo Zenker, a Lizete Vicari, o Maurício Voight e o Jaime Fensterseifer, num encontro pra lá de natureba.
Depois do almoço, demos um pulo na propriedade do Jaime, o Quinta da Canopa, pra degustar alguns de seus experimentos com os espumantes e conhecer os vinhedos biodinâmicos.
Experimentamos dois espumantes experimentais do Jaime: ele está ano a ano fazendo testes para chegar na “fórmula” ideal do seu espumante.
Já de noitinha, descambamos para Pinto Bandeira, para encontrar com a Marina Santos, do Vinha Unna. Ano passado acompanhamos a primeira vinificação da Marina ( emocionante! ) e pra variar um pouco, foi mais uma que se aconchegou no nosso coração natureba. Vinhos de vinificação natural, com uvas orgânicas, de pouquíssima produção – cerca de cento e poucas garrafas de cada uva, aproximadamente.
A Marina é uma enóloga super estudiosa e vinhateira de mão cheia. Apaixonada pelo biodinamismo e pela vinificação natural, acredita piamente que esse é o caminho para os vinhos de qualidade brasileiros. Eu também assino embaixo – principalmente depois de tomar os vinhos de todo esse pessoal que está na mesma onda. Ela participa de projetos de implantação de vinhedos biodinâmicos no Rio Grande do Sul e está vinificando algumas castas italianas e georgianas. Mas eu conto mais detalhes sobre cada vinhateiro depois…. rss